quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Terrorista


post anterior tinha como título duas palavras horríveis que inspiram um enorme terror por parte de qualquer honrado cidadão: Blasfemo e terrorista. Quem é acusado de blasfémia ou de terrorismo é seguramente o mais perigoso ser à face deste nosso planeta, não é verdade? Não e sim e vamos tentar perceber porquê. Do ponto de vista do Estado, o terrorista, é sem dúvida o individuo mais perigoso. Do ponto de vista da Igreja, o blasfemo, é igualmente o mais perigoso. Representa o terrorista e o blasfemo, para o povo, algum perigo? O terrorista, depende das suas intenções, em algumas situações pode melhorar o nível de vida dos cidadãos e noutras pode torná-las, é verdade, pior. O blasfemo nunca, apenas usa o seu direito à opinião ou livre expressão e em muitos casos limita-se a divulgar verdades. A primeira linha de defesa do poder instituído é voltar o rebanho contra os seus dissidentes, aqueles que ousam pensar pela sua própria cabeça. Tanto o Estado como a Igreja são sedimentados em mitos e em dogmas de fé que foram transformados, com os séculos, em verdades inabaláveis, repetidas vezes sem conta pelo povo. Se alguma ovelha se recusa a aceitar qualquer um destes mitos perpetuados no tempo, são todas as outras ovelhas que saem em defesa das suas verdades absolutas aprendidas de boca a boca. Mas neste escrito vamos cingir-nos no ataque ao Estado - o terrorismo. 
Primeira ideia muito importante: temos que pensar em nós - Povo - como um rebanho que é controlado por várias instituições, umas mais fortes do que outras, que têm como objectivo primordial a sua subsistência, contra inimigos internos e externos. Um Estado não existe sem povo, daí que para a sua manutenção (tal como existe) é vital manter o seu rebanho controlado segundo os seus interesses. Qualquer pessoa que coloca os interesses do Estado e da sua elite em risco é considerado… um… terrorista! Isso mesmo.
O dicionário diz-nos que o terrorismo é “um conjunto de actos de violência cometidos por grupos revolucionários” ou ainda mais “sistema de governo por meio de terror ou de medidas violentas”. São definições muito redutoras mas é algo que nos incute logo uma antipatia por tais pessoas mesmo sem sabermos sequer qualquer coisa sobre o que defendem e as suas intenções - em muitos casos, pasmem-se,  até são em benefício do público em geral, mas como não se é dado sequer a possibilidade de ouvirmos o seu lado, nem a consideramos, nem podemos! Deus nos livre!! Não queremos estar associados a um terrorista, não é? Um terrorista é alguém horrível e pronto, alguém que nos escusamos a pensar, como por exemplo: um elemento da ETA ou um elemento do IRA, não é? E já nos pensamos que coisa horrível querem eles? Uns, o IRA, a união da Irlanda (República da Irlanda com a Irlanda do Norte) - que faz todo o sentido - e os outros, a ETA, a auto-determinação do País Basco, um direito consagrado na Carta das Nações Unidas. E já pensaram que, por exemplo, os “ex-terroristas” da FNLA, MPLA, FRELIMO, PAIGC etc, neste momento, muitos deles, têm estátuas nos “países libertados” e são heróis revolucionários? Ou que agora, esses mesmos “terroristas” são recebidos, pelo estado que os assim considerava, com todas as honras que concede a qualquer poder legítimo e às pessoas mais elevadas. 
“Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado.” - George Orwell
E alguém tem dúvidas que os terroristas capturados pelo Estado Espanhol, da ETA, em caso da independência do País Basco, seriam considerados heróis pelo seu povo? Nem que seja porque seriam obrigados, de uma forma ou outra, a considerá-los pela construção de uma nova história oficial do independente Estado Basco que consideraria, os que outrora denominados terroristas pelos Estado Espanhol e seus aliados, de lutadores pela libertação do povo Basco. Mas enquanto não o conseguirem, não passarão de terroristas para a maioria povo que sofre a intoxicação dos seus senhores/pastores. Os portugueses, por exemplo, quando lutaram pela sua independencia em 1640 eram terroristas (do Estado Espanhol) e agora, segundo a história oficial, são uns grandes heróis, “libertadores do oprimido povo português”. Tivessem perdido as batalhas da independência - a derrota [portuguesa] não interessava, de maneira nenhuma, nem à Inglaterra nem à França - e a história seria contada de uma maneira muito diferente… não é mais que lógico? Todos nutrimos uma enorme simpatia pelo Nelson Mandela, verdade? Pois saibam que foi preso por terrorismo e hoje é uma referência mundial. Em termos globais, podemos afirmar que, se estás com os Estados Unidos estás com “Deus”, se estás contra, és um terrorista. Podemos igualmente mencionar um caso que igualmente todos conhecem e ouviram falar: Che Guevara. Um criminoso, um assassino, um terrorista? Ou um libertador, um homem que deu a vida pelos oprimidos, um revolucionário? As duas perspectivas vigoram lado a lado nos nossos dias. A primeira ideia é-nos incutida pelas elites capitalistas e a segunda acaba por estar associada a uma juventude que adere aos ideais da moda sem saber, em muitos casos, realmente o que está a defender. Países como a Bolívia, Venezuela, Cuba e até certo ponto a Argentina, consideram Che Guevara como um exemplo de coragem e lutador contra os opressores, sendo considerado um herói e é venerado nestes países. Na verdade, Che, foi um lutador pela liberdade e igualdade dos povos nativos americanos, que viviam - e ainda vivem - em condições extremas de pobreza. Obviamente, o poder estabelecido, não gostou da ideia e não descansou até o assassinar e contar a história à sua maneira. 
“A História vai ser gentil comigo pois eu pretendo escrevê-la” - Winston Churchill
Apesar deste poder vigente norte-americano, os estados, sejam capitalistas, comunistas, socialistas, teocráticos, oligárquicos, democráticos, fascistas, monárquicos, republicanos etc, todos eles, impõem aos seus cidadãos a visão do seu interesse, de todas as formas possíveis. Nas Democracias, o controlo é feito, em especial, nos meios de comunicação populares - a que o povo mais facilmente acede - que ridicularizam e demonizam qualquer alternativa ao seu sistema. Um dos casos mais paradigmáticos nos últimos tempos é sem dúvida o de Hugo Chavez, na Venezuela, que nada mais fez, com a sua democrática vitória eleitoral, do que terminar com o poder oligárquico ocidental instituído, em especial o americano e espanhol, e como consequência tem sido massacrado e marcado como ditador, drogado, maníaco, palhaço e até lhe chamaram de “socialista” - que o é - como se fosse o maior crime da Humanidade. A intenção desta imprensa é fácil de descortinar, sabemos o que pretendem quando se dirigem ao público ocidental que reage às palavras “comunismo” e “Socialismo” como se reage à palavra terrorismo: emocionalmente e irracionalmente. Eles bem gostariam de o marcar como terrorista, mas não podem, porque tem sido continuadamente eleito democraticamente todos estes anos pelo seu povo. O seu sistema, como é óbvio, não é do agrado do poder ocidental - uma sociedade socialista que pretende harmonizar a diferença entre os ricos e os pobres e finalmente dar uma vida digna aos nativos americanos, os descendentes dos escravos trazidos pelos espanhóis, mestiços, enfim, as camadas mais baixas da sociedade venezuelana. Pois, estas políticas não satisfazem os ocidentais (Estados e grandes empresas) que estão a perder muito dinheiro com o petróleo que outrora estava nas suas mãos e agora Chavez usa para ajudar o povo. É também um facto que os Estados Unidos têm apoiado ditadores latino-americanos e apoiado golpes de estado que sirvam os seus interesses, inclusive já tentaram derrubar Chavez, num golpe de estado, mas numa demonstração extraordinária do povo venezuelano, exigiram o retorno do Presidente ao poder e conseguiram-no.
Guatemala, Equador, Panamá, Irão, Iraque, Chile etc, são exemplos de actividades terroristas por parte da maior potencia mundial, mas que as nossas sociedades não a noticiam nessa perspectiva, mas sim na perspectiva dos nossos interesses, de libertadores dos povos oprimidos ou como vitórias da democracia. Que hipocrisia! Que ninguém seja inocente, os Estados Unidos nunca quiseram saber das condições de vida dos povos e apoiaram em muitos casos a brutalidade dos ditadores que estavam ao seu serviço. Nem qualquer outro império, verdade seja dita, pois a instituição Estado só tem um propósito - perpetuar o seu poder e usará todos os seus meios disponíveis, e nas nossas sociedades democráticas a propaganda e o controlo da informação é a sua melhor arma. É um erro enorme crermos que a nossa imprensa comercial diz-nos a verdade em todas as situações. A imprensa ou depende do Estado e serve os seus interesses ou tem a sua própria agenda e serve os seus próprios interesses.
Conclusão: Um terrorista, não é mais do que uma pessoa que vai contra os interesses estabelecidos de um Estado/Poder, e que, tem uma diferente perspectiva de como se deve controlar o rebanho (povo) mas não é necessariamente pior. A palavra terrorista serve apenas o interesse do poder estabelecido com o intuito de provocar: medo; ódio irracional e instantâneo no povo; união contra um inimigo do estado na defesa dos interesses dos actuais senhores.
Quando alguém fala em terrorismo, alguém se pergunta no que os alegados “terroristas” defendem? Na legitimidade da sua luta e ideais? Não, e é precisamente essa a intenção: impedir que as pessoas sequer pensem e simplesmente aceitem o que lhes é transmitido.
É-se terrorista dependendo apenas do ponto de vista de quem tem mais poder, que acusa o mais débil e faz passar essa ideia ao seu rebanho (povo). Lembrem-se que o terrorista de hoje pode ser o herói de amanhã e o terrorista de ontem não é, em muitos casos, pior para o interesse geral. Em muitos casos, os que são considerados terroristas, são melhores do que os senhores que defendemos irracionalmente e incondicionalmente.
Pensem!


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