quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A Falsa Democracia



Numa altura em que a Democracia se resume a ir fazer uma cruz num papel e a legitimar um sistema corrupto, que já não serve a ninguém que não aos políticos vencedores e respectivos grupos económicos e interesses que sustentam a vitória, usado e abusado para distribuir “tachos” pelos militantes do partido - os primeiros credores da vitória eleitoral - e a fazer passar leis que beneficiem estes grandes interesses económicos que os apoiaram e apoiam na difícil tarefa de obter e manter o poder.
De resto, fazem o quê? Não têm poder para muito mais: a braços com uma dívida monumental, impossível de pagar, refém dos investidores, que especulam deliberadamente para obtenção de mais lucros; poderes antagónicos/partidos políticos que tudo fazem para denegrir qualquer eventual bom trabalho que algum governo possa fazer - é esse o seu papel, criticar o governo mesmo que esteja a fazer algo positivo; grupos/sindicatos que não têm qualquer interesse no bem geral mas apenas no grupo que defendem e que inviabilizam qualquer reforma necessária em prol do bem estar da sociedade. Numa Democracia refém deste sistema corrupto, um voto é pactuar e legitimar a vergonha, onde até encontramos socialistas com políticas neoliberais, de olhos fechados perante o capitalismo selvagem, evidenciando como os partidos, os ideais, os homens,  se curvam perante o poder económico.
Como tem sido evidente ganham aqueles que conseguem vender melhor e para vender bem é preciso um forte apoio financeiro e os políticos inevitavelmente caem numa teia que não se conseguem livrar (também é verdade que muitos não sentem qualquer problema). Ganham-se eleições com o candidato a propor o contrário das ideias do actual regente - boas ou más - e que agradem aos lobbies que financiem a sua campanha. Integridade, honestidade e competência já não ganham eleições. Em Democracia ganha o espectáculo, a ilusão, a aparência, a mentira, aqueles que melhor consigam conquistar o tal eleitorado “big brother” que acredita que mudando do PS para o PSD e vice-versa lhe vai trazer alguma melhoria na sua vida e sente-se realizado por ter o poder por castigar o governo.
Grande ilusão e facilmente se apercebem disso e passam pouco depois a dizer mal de quem acabaram de eleger e a clamar por quem tinham deposto. Nesta altura não consigo olvidar-me das palavras do prof. José Hermano Saraiva que afirmava categoricamente: ‎”A democracia quer dizer que o maior número tem razão. Alguém acredita nisto? Neste país de analfabetos, o maior número é de primatas e são eles que mandam.”  Mas não me parece verdade (excepto a parte dos analfabetos), é apenas uma ilusão, pois, não há uma verdadeira escolha, é um ciclo repetitivo de partilha de poder em que o povo hoje, muito convicto, diz mal de uma cor e pouco depois da outra. No entanto há uma diferença grande em relação a uma ditadura efectiva: o político tem que convencer o povo. Mas é fácil convencer o rebanho com as artimanhas certas e perpetuar o poder. Há campanhas constantes para que não haja qualquer desvio dos poderes principais - PS e PSD - considerando todos os outros partidos ou movimentos de radicais, estigmatizando-os na sociedade, não dando espaço público a outras ideias e por conseguinte estando tudo preenchido com políticos afectos às forças dominantes. Sendo a imprensa pertencente dos grandes grupos económicos, percebe-se a fragilidade da Democracia que temos.
Já alguém explicou ao povo o que é o Socialismo? Marx? Anarquismo? Comunismo? Sequer a Social Democracia? Ao povo são-lhes dados nomes para fazerem uma cruz e elegem o que aparenta ser mais sério ou até, quiçá, no mais bonito, pois estou seguro que muitos não fazem ideia do que representam as pessoas em que estão a votar. Um sistema em que aquele que tenha mais propaganda tem mais hipóteses de ganhar é um sistema erróneo desde a sua origem. Uma Democracia em que o povo não está elucidado não é uma verdadeira Democracia, é a demagogia que reina.
O futuro económico não depende do partido A ou B (socialistas ou sociais democratas) nem do Presidente C ou D (apoiados por estes dois partidos), por isso, o acto eleitoral pouco mais é do que uma farsa em que mesmo os Socialistas já não são garante de mais liberdades e progressos sociais em razão do problema económico. Ainda podemos ir ao ponto do José Saramago: numa altura em que o verdadeiro poder está nos bancos e as nações estão reféns destas instituições não democráticas, que democracia é esta? Votar, neste momento, é como ir à missa, pode ajudar um crente a sentir-se melhor, mas tem algum resultado prático? 
Um Presidente eleito com 25% dos eleitores é uma evidência de como esta Democracia está a definhar e às portas da morte, mas os beneficiados do sistema - partidos e grupos económicos - continuam e continuarão a propalar a ilusão e a assobiar para a lado até o sistema colapsar. O que é que se seguirá? Essa é uma boa questão…

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