quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

As Artes em Portugal


Uma vida nobre requer uma arquitectura nobre para usos nobres de homens nobres. A escassez de cultura significa o que sempre significou: uma civilização ignóbil e portanto uma iminente derrocada. - Frank Lloyd Wright
Em consequência dos enormes diferenças entre uma pequena elite endinheirada e uma maioria em grandes dificuldades económicas, construiu-se um país com duas realidades distintas: uma culta, elucidada, inteligente, criativa, com enormes potencialidades artísticas, e que está ao nível da melhor mundo nas diversas formas de Arte; outra analfabeta ou semi-analfabeta, alienada, idiota, desdenhosa e, portanto, incapaz de compreender qualquer manifestação artística que não a óbvia - o entretenimento ou arte inferior - que os “artistas” oportunistas fazem com o intuito de agradar a este público e fazer dinheiro à custa de uma população por civilizar.
Em 2009, o Público, noticiava que ainda há em Portugal 1 milhão de portugueses que não sabe ler nem escrever. A Revista Ibero-Americana de Educación publicou , ainda recentemente, que apenas 20% da população portuguesa completou o 12º ano quando a média da OCDE é de 65% e 67% não tem mais do que 6 anos de escolaridade. Em 2010, a Eurostat, revelava que 31% dos estudantes portugueses tinha abandonado o ensino escolar obrigatório - de apenas 9 anos - sem o concluir. Estes números desastrosos colocam Portugal, ainda em pleno século XXI, no último lugar da Educação da sua população, a par com Malta, dos países da UE. Estes números depois, inevitavelmente, reflectem-se nos gostos, preferências, comportamentos, atitudes, muitas vezes desprezíveis desta população. 
Identificados os principais problemas - economia e consequentemente educação - o que resta para os artistas que pretendam exprimir-se de uma forma original sem obrigações de agradar a ninguém em particular que não a si próprios? Lamentavelmente emigrar ou vender a sua arte para países mais civilizados, capazes de reconhecer o valor dos seus trabalhos. O ínfimo mercado português elucidado não chega para manter qualquer manifestação artística, que não aquela com intuitos meramente comerciais, daí que só reste ao Estado subsidiar os artistas mais criativos para, “artificialmente”, poderem fazer o seu trabalho, essencial para qualquer país que se preze. Se excluirmos uma franja populacional de Lisboa, Porto, em certa medida Braga e a Coimbra universitária e Portugal é um enorme deserto em que os artistas não se podem expressar para além do oco pretendido pela maioria. Assim, a estes subsídios que são essenciais, o povo responde com ódio, insultos, desdém, apelando ferozmente ao fim destes incentivos, considerados completamente desnecessários, exigindo uma Arte que entendam - comercial. Se aliado a isto temos um governo - ou outros poderes estatais - populista e demagogo então estamos na presença de uma tragédia.
 …por outro lado, “dar ao povo o que o povo gosta”, contribuindo para a manutenção do obscurantismo massificado, para o alheamento social, premiando a preguiça intelectual, o atavismo no entretenimento e a alienação generalizada em relação aos confrontos estéticos e políticos, cuidando na prática, da manutenção de uma elite. 
Neste caso levanta-se sempre a questão: deve o povo receber sempre aquilo que quer e consegue entender? Os demagogos, oportunistas e simplistas dirão, sempre, que sim, mas será que deve ser assim? Não! Responder sim seria a resposta mais simples, abandonar o povo à sua ignorância e não fazer nada para o elevar intelectualmente, enquanto a elite, com o seu poder económico acede ao que de melhor se faz e se escusa a fazer o necessário e a sua obrigação. Esse era o caminho mais fácil, mas os líderes de uma sociedade que se preze nunca se devem eximir de educar e fazer tudo para esbater as diferenças entre os seus cidadãos, mesmo que, por ignorância do povo, sejam criticados. Infelizmente nas sociedades capitalistas tudo o que interessa é o lucro e daí termos uma “arte” menor e programas de duvidosa qualidade a ocupar o espaço todo para entreter a maioria da população, sem dar qualquer espaço a verdadeiros artistas que podiam acrescentar algo, levar as pessoas a pensar, raciocinar, crescer, evoluir. Se os canais públicos entram numa perspectiva de concorrência, como estão a entrar, então não faz qualquer sentido a sua existência a não ser para propaganda estatal.
Uma das principais justificações para a nossa triste realidade foi o regime Salazarista que tinha uma Cultura para entreter as massas, política, doutrinal, à qual chamava de “Política do Espírito”, censurada, castrada, subserviente e que olhava os artistas de soslaio, entreteve gerações de portugueses e impôs um pensamento difícil de expurgar. Aliado a isto, uma política de apenas habilitar as massas para escrever e ler e temos o quadro (quase) completo. A persistência de grandes desigualdades económicas pós 25 de Abril e as gerações anteriores doutrinadas neste pensamento Salazarista, que passam a ideologia às novas gerações, explica o resto.
O maior inimigo do povo é o próprio povo, que entende a cultura como algo desnecessário, algo aborrecido e de pseudo-intelectuais, em vez de perceber que é na cultura que está a sua libertação.
  

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