domingo, 30 de janeiro de 2011

A História da Escravatura Humana





Será que ninguém se perguntou, pelo menos uma vez na vida, que a necessidade/obrigatoriedade de ter fazer algo que não se gosta, o resto da sua vida, mesmo que o convençam que o trabalho dá saúde, é bom, e todas as outras tretas que nos enfiam na cabeça, como a honra do trabalho, é escravatura? 


"Ser verdadeiramente livre é simultaneamente muito fácil e muito difícil. Evitamos o horror da nossa escravatura porque é demasiado doloroso olhá-la directamente. Dançamos à volta da violência infindável do nosso sistema moribundo porque tememos os ataques dos nossos colegas de rebanho. Mas apenas podemos ser mantidos nas jaulas que recusamos ver. Acorda! Para ver a fazenda é necessário deixá-la."


Red pill or the blue pill?

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Oeste Nada de Novo



“All Quiet on the Western Front” ou em português “A Oeste Nada de Novo” é um extraordinário filme norte-americano de 1930 realizado por Lewis Milestone baseado no romance com o mesmo nome de Erich Maria Remarque.
Este filme narra a história de um jovem alemão, Paul Bauman, no contexto da Grande Guerra. Desde a sua doutrinação na escola para a guerra: a honra; a glória; o dever; a missão; a Pátria - que o levam a voluntariar-se entusiasticamente para a frente de batalha, até ao confronto com a realidade: a morte, a fome, a estupidez humana, a crueldade, o desespero etc.
E é aqui que começa a parte mais importante do filme, quando Paul e amigos começam a raciocinar e a pensar sobre as causas desta guerra e das guerras em geral e especulam se é o Kaiser ou as grandes empresas que precisam da guerra por motivos egoístas ou se simplesmente é uma febre que dá origem a tudo isto. Quando se perguntam: por que estão lutar? para quem? que benefícios ganharão? A nenhuma destas perguntas sabem responder com clareza. Em batalha apercebe-se que o seu inimigo não é o soldado do lado de lá e que estes são tão vítimas quanto ele da doutrina que recebem em casa.
Mais tarde consegue uma licença para se ausentar temporariamente e regressa a casa aonde encontra pessoas extremamente patriotas sem fazerem qualquer ideia do que se passava na frente de batalha e das agruras dos soldados. Decide voltar à sua escola, aonde tinha escutado o professor a discursar entusiasticamente da honra de lutar pela pátria, e encontra o mesmo cenário. O professor agora apresentava este seu antigo aluno, um heróico soldado patriota, aos seus novos pupilos e pedia-lhe para falar sobre a honra de servir a pátria na guerra. Quando Paul conta o que viu, a sua experiência de guerra, da mentira que é incutida às pessoas, logo os novos alunos se levantam e gritam-lhe “traidor”. 
Um dos melhores filmes de sempre em que se destaca, acima de tudo, a mensagem que é dada aos povos do mundo, um filme anti-guerra, fortemente crítico da ideia do patriotismo, um filme que nos leva a pensar sobre a nossa identidade, mas há ainda muito mais para além disto e portanto deve ser visto, revisto e estudado. Um filme fascinante! 
Escusado será dizer que os nazis odiaram o filme, baniram-no e destruíram-no - por razões óbvias - e poucos anos mais tarde deram origem à pior guerra que a Humanidade conheceu. Outros países enveredaram pelo mesmo caminho e esteve banido também em França, Austrália, Itália e Áustria. Pois é, se as pessoas estivessem conscientes da verdade, talvez as guerras não existissem… 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A Falsa Democracia



Numa altura em que a Democracia se resume a ir fazer uma cruz num papel e a legitimar um sistema corrupto, que já não serve a ninguém que não aos políticos vencedores e respectivos grupos económicos e interesses que sustentam a vitória, usado e abusado para distribuir “tachos” pelos militantes do partido - os primeiros credores da vitória eleitoral - e a fazer passar leis que beneficiem estes grandes interesses económicos que os apoiaram e apoiam na difícil tarefa de obter e manter o poder.
De resto, fazem o quê? Não têm poder para muito mais: a braços com uma dívida monumental, impossível de pagar, refém dos investidores, que especulam deliberadamente para obtenção de mais lucros; poderes antagónicos/partidos políticos que tudo fazem para denegrir qualquer eventual bom trabalho que algum governo possa fazer - é esse o seu papel, criticar o governo mesmo que esteja a fazer algo positivo; grupos/sindicatos que não têm qualquer interesse no bem geral mas apenas no grupo que defendem e que inviabilizam qualquer reforma necessária em prol do bem estar da sociedade. Numa Democracia refém deste sistema corrupto, um voto é pactuar e legitimar a vergonha, onde até encontramos socialistas com políticas neoliberais, de olhos fechados perante o capitalismo selvagem, evidenciando como os partidos, os ideais, os homens,  se curvam perante o poder económico.
Como tem sido evidente ganham aqueles que conseguem vender melhor e para vender bem é preciso um forte apoio financeiro e os políticos inevitavelmente caem numa teia que não se conseguem livrar (também é verdade que muitos não sentem qualquer problema). Ganham-se eleições com o candidato a propor o contrário das ideias do actual regente - boas ou más - e que agradem aos lobbies que financiem a sua campanha. Integridade, honestidade e competência já não ganham eleições. Em Democracia ganha o espectáculo, a ilusão, a aparência, a mentira, aqueles que melhor consigam conquistar o tal eleitorado “big brother” que acredita que mudando do PS para o PSD e vice-versa lhe vai trazer alguma melhoria na sua vida e sente-se realizado por ter o poder por castigar o governo.
Grande ilusão e facilmente se apercebem disso e passam pouco depois a dizer mal de quem acabaram de eleger e a clamar por quem tinham deposto. Nesta altura não consigo olvidar-me das palavras do prof. José Hermano Saraiva que afirmava categoricamente: ‎”A democracia quer dizer que o maior número tem razão. Alguém acredita nisto? Neste país de analfabetos, o maior número é de primatas e são eles que mandam.”  Mas não me parece verdade (excepto a parte dos analfabetos), é apenas uma ilusão, pois, não há uma verdadeira escolha, é um ciclo repetitivo de partilha de poder em que o povo hoje, muito convicto, diz mal de uma cor e pouco depois da outra. No entanto há uma diferença grande em relação a uma ditadura efectiva: o político tem que convencer o povo. Mas é fácil convencer o rebanho com as artimanhas certas e perpetuar o poder. Há campanhas constantes para que não haja qualquer desvio dos poderes principais - PS e PSD - considerando todos os outros partidos ou movimentos de radicais, estigmatizando-os na sociedade, não dando espaço público a outras ideias e por conseguinte estando tudo preenchido com políticos afectos às forças dominantes. Sendo a imprensa pertencente dos grandes grupos económicos, percebe-se a fragilidade da Democracia que temos.
Já alguém explicou ao povo o que é o Socialismo? Marx? Anarquismo? Comunismo? Sequer a Social Democracia? Ao povo são-lhes dados nomes para fazerem uma cruz e elegem o que aparenta ser mais sério ou até, quiçá, no mais bonito, pois estou seguro que muitos não fazem ideia do que representam as pessoas em que estão a votar. Um sistema em que aquele que tenha mais propaganda tem mais hipóteses de ganhar é um sistema erróneo desde a sua origem. Uma Democracia em que o povo não está elucidado não é uma verdadeira Democracia, é a demagogia que reina.
O futuro económico não depende do partido A ou B (socialistas ou sociais democratas) nem do Presidente C ou D (apoiados por estes dois partidos), por isso, o acto eleitoral pouco mais é do que uma farsa em que mesmo os Socialistas já não são garante de mais liberdades e progressos sociais em razão do problema económico. Ainda podemos ir ao ponto do José Saramago: numa altura em que o verdadeiro poder está nos bancos e as nações estão reféns destas instituições não democráticas, que democracia é esta? Votar, neste momento, é como ir à missa, pode ajudar um crente a sentir-se melhor, mas tem algum resultado prático? 
Um Presidente eleito com 25% dos eleitores é uma evidência de como esta Democracia está a definhar e às portas da morte, mas os beneficiados do sistema - partidos e grupos económicos - continuam e continuarão a propalar a ilusão e a assobiar para a lado até o sistema colapsar. O que é que se seguirá? Essa é uma boa questão…

A Farsa


O sistema continua, é verdade, mas parece, também, que cada vez mais há portugueses lúcidos. Porquê? A abstenção, votos nulos e votos em branco bateram todos os recordes:
  • Abstenções - 53,4%
  • Votos em Branco - 4,3%
  • Votos nulos - 1,9%
Saltaram logo a terreno os partidos que apoiaram o candidato vencedor para afirmar que estes números abstencionistas não lhe beliscam a legitimidade. Será que não? Um candidato que é eleito com pouco mais de 20% dos eleitores inscritos ser considerado o Presidente de todos os portugueses com toda a legitimidade é no mínimo risível. Mas pronto, não os podemos culpar por fazerem o seu trabalho de manter a ilusão de que as suas posições fazem sempre todo o sentido e de tentarem credibilizar o sistema em que se inserem. Um resultado destes, se houvesse alguma vergonha, após este cartão vermelho absolutamente evidente dado pela população portuguesa, no mínimo, não haveria ninguém a reclamar qualquer vitória. Mas não, o circo tem que continuar e portanto, nenhum partido, faz nada para além de oferecer as circunstanciais palavras sobre o assunto, que nós já estamos fartos de ouvir. Ao nível dos jogadores de futebol e treinadores que repetem a cassete vezes sem conta. Exige-se mais! O Povo quer mais! O País precisa de mais!
Enfim, há dias em que acredito que o povo, afinal, não é tão estúpido quanto se possa pensar.
Eu voto Cavaco porque...

As Presidenciais



E é já daqui a umas horas a ocasião de voltarmos a demonstrar ao vizinho que somos tão bons cidadãos, conscientes, interessados nos destinos do nosso país, e que não permitimos que esses infames socialistas ou comunistas tomem o poder. Aliás foram estes que destruíram esse nosso Portugal da ordem e do respeito, esse lugar que Deus abençoou e que ainda querem torná-lo mais desavergonhado. Por isso voto no professor Cavaco Silva, o único candidato que se declarou integrado no regime de Salazar, esse homem que foi considerado pelo nosso sábio povo, o maior português de sempre. O professor é um homem seríssimo que esses vermelhos tentam denegrir com uma campanha sem escrúpulos focada na mentira, na insinuação, na devassa pública à qual nós, portugueses sérios, tementes a Deus e honrados patriotas não podemos ficar indiferentes e por isso vamos votar em massa neste santo homem.
Viva Portugal! Viva a tradição! Viva a santa moral católica!
*Pode haver algo mais estúpido do que um pobre ou remediado votar na direita? Aquela “Política do Espírito” ainda faz mossa passados todos estes anos…


O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar
Fernando Pessoa

As Artes em Portugal


Uma vida nobre requer uma arquitectura nobre para usos nobres de homens nobres. A escassez de cultura significa o que sempre significou: uma civilização ignóbil e portanto uma iminente derrocada. - Frank Lloyd Wright
Em consequência dos enormes diferenças entre uma pequena elite endinheirada e uma maioria em grandes dificuldades económicas, construiu-se um país com duas realidades distintas: uma culta, elucidada, inteligente, criativa, com enormes potencialidades artísticas, e que está ao nível da melhor mundo nas diversas formas de Arte; outra analfabeta ou semi-analfabeta, alienada, idiota, desdenhosa e, portanto, incapaz de compreender qualquer manifestação artística que não a óbvia - o entretenimento ou arte inferior - que os “artistas” oportunistas fazem com o intuito de agradar a este público e fazer dinheiro à custa de uma população por civilizar.
Em 2009, o Público, noticiava que ainda há em Portugal 1 milhão de portugueses que não sabe ler nem escrever. A Revista Ibero-Americana de Educación publicou , ainda recentemente, que apenas 20% da população portuguesa completou o 12º ano quando a média da OCDE é de 65% e 67% não tem mais do que 6 anos de escolaridade. Em 2010, a Eurostat, revelava que 31% dos estudantes portugueses tinha abandonado o ensino escolar obrigatório - de apenas 9 anos - sem o concluir. Estes números desastrosos colocam Portugal, ainda em pleno século XXI, no último lugar da Educação da sua população, a par com Malta, dos países da UE. Estes números depois, inevitavelmente, reflectem-se nos gostos, preferências, comportamentos, atitudes, muitas vezes desprezíveis desta população. 
Identificados os principais problemas - economia e consequentemente educação - o que resta para os artistas que pretendam exprimir-se de uma forma original sem obrigações de agradar a ninguém em particular que não a si próprios? Lamentavelmente emigrar ou vender a sua arte para países mais civilizados, capazes de reconhecer o valor dos seus trabalhos. O ínfimo mercado português elucidado não chega para manter qualquer manifestação artística, que não aquela com intuitos meramente comerciais, daí que só reste ao Estado subsidiar os artistas mais criativos para, “artificialmente”, poderem fazer o seu trabalho, essencial para qualquer país que se preze. Se excluirmos uma franja populacional de Lisboa, Porto, em certa medida Braga e a Coimbra universitária e Portugal é um enorme deserto em que os artistas não se podem expressar para além do oco pretendido pela maioria. Assim, a estes subsídios que são essenciais, o povo responde com ódio, insultos, desdém, apelando ferozmente ao fim destes incentivos, considerados completamente desnecessários, exigindo uma Arte que entendam - comercial. Se aliado a isto temos um governo - ou outros poderes estatais - populista e demagogo então estamos na presença de uma tragédia.
 …por outro lado, “dar ao povo o que o povo gosta”, contribuindo para a manutenção do obscurantismo massificado, para o alheamento social, premiando a preguiça intelectual, o atavismo no entretenimento e a alienação generalizada em relação aos confrontos estéticos e políticos, cuidando na prática, da manutenção de uma elite. 
Neste caso levanta-se sempre a questão: deve o povo receber sempre aquilo que quer e consegue entender? Os demagogos, oportunistas e simplistas dirão, sempre, que sim, mas será que deve ser assim? Não! Responder sim seria a resposta mais simples, abandonar o povo à sua ignorância e não fazer nada para o elevar intelectualmente, enquanto a elite, com o seu poder económico acede ao que de melhor se faz e se escusa a fazer o necessário e a sua obrigação. Esse era o caminho mais fácil, mas os líderes de uma sociedade que se preze nunca se devem eximir de educar e fazer tudo para esbater as diferenças entre os seus cidadãos, mesmo que, por ignorância do povo, sejam criticados. Infelizmente nas sociedades capitalistas tudo o que interessa é o lucro e daí termos uma “arte” menor e programas de duvidosa qualidade a ocupar o espaço todo para entreter a maioria da população, sem dar qualquer espaço a verdadeiros artistas que podiam acrescentar algo, levar as pessoas a pensar, raciocinar, crescer, evoluir. Se os canais públicos entram numa perspectiva de concorrência, como estão a entrar, então não faz qualquer sentido a sua existência a não ser para propaganda estatal.
Uma das principais justificações para a nossa triste realidade foi o regime Salazarista que tinha uma Cultura para entreter as massas, política, doutrinal, à qual chamava de “Política do Espírito”, censurada, castrada, subserviente e que olhava os artistas de soslaio, entreteve gerações de portugueses e impôs um pensamento difícil de expurgar. Aliado a isto, uma política de apenas habilitar as massas para escrever e ler e temos o quadro (quase) completo. A persistência de grandes desigualdades económicas pós 25 de Abril e as gerações anteriores doutrinadas neste pensamento Salazarista, que passam a ideologia às novas gerações, explica o resto.
O maior inimigo do povo é o próprio povo, que entende a cultura como algo desnecessário, algo aborrecido e de pseudo-intelectuais, em vez de perceber que é na cultura que está a sua libertação.
  

O Patriota



Hoje vamos falar de mais uma estupidez que é incutida no pobre cidadão - o patriotismo. O patriota é aquele que ama a sua pátria em todas as circunstâncias e que sente um orgulho imenso em pertencer a determinado país. O patriota, fala com enorme orgulho do seu país e sente que pertence ao melhor país do mundo e está disposto a dar a sua vida para o defender. Aliás, sente orgulho em afirmar em voz alta que pertence a um grande país, ainda que esteja a falar de um miserável. 

Na prática, o que se incute no povo é um instrumento para defender os seus senhores contra ameaças externas e o seu poder estabelecido, mesmo quando a extinção desse país ou invasão poderia proporcionar melhores condições à vida do “rebanho”. O exemplo ibérico de várias tribos, celtas e iberas, que lutaram valentemente contra o império romano, mas que inevitavelmente acabaram por perder a guerra é um exemplo interessante. No fim, e apesar dos ibéricos serem vencidos, a população passou a dispor de um nível de vida imensuravelmente melhor (bom, pelo menos os que não foram feitos escravos): pontes, estradas, aquedutos, termas, teatros, anfiteatros etc. Hoje, estamos todos de acordo que a invasão romana, no final, foi melhor para todos; mas será que o mesmo não se pode aplicar aos dias de hoje? Será que o fim das muitas fronteiras políticas que ainda proliferam em todo o mundo não se traduziriam em melhorias significativas para os povos? Reparem nos benefícios que trouxe a UE para tantos povos outrora oprimidos e pobres. 
Patriota: A pessoa que consegue berrar mais alto sem saber sobre o que está a berrar. - Mark Twain
Vamos focar-nos num caso distante: os peruanos. Grande parte da sua população são índios — incas, aimarás e outras tribos menores — a quem lhes foi dado uma bandeira e um hino e agora sentem-se orgulhosos peruanos, dispostos a morrer e a matar pelo seu opressor e novo senhor — o espanhol independente da casa mãe (metrópole). Interessante é também vermos estes indígenas a conviverem pacificamente com estátuas de conquistadores espanhóis como Francisco Pizzaro, o homem que os escravizou e terminou com a sua civilização. E isto deve-se a quê? Essencialmente porque somos desde pequenos doutrinados a aceitar dogmaticamente como bom o nosso “senhor”, a sermos patriotas e a nunca questionar nada. E quem vai questionar? Se os pais, os irmãos, os amigos, a televisão, a rádio, o jogador de futebol nos dizem que sim, que devemos estar orgulhosos, é porque é verdade, não é? Se todos cantam o hino emocionados, é porque realmente este país é bom e devemos ser e sentir igual aos demais. Pensem no mapa de África, retalhado pelas potências europeias sem qualquer consideração pelos povos nativos, que em nada correspondem aos modernos países, e o mesmo pode ser dito de todo o mundo e apesar disto todos estes cidadãos sentem um enorme orgulho por pertencerem a estas novas realidades políticas. Alguém questiona algo? Não, não têm educação para tal e se questionarem são presos e até condenados à morte, apoiada pelos novos cidadãos. O mesmo vale para Portugal: pensem em quem são (foram) os nossos Reis? Pensem na casta de nobres e dos servos obedientes: quem são estes nobres? Por que razão o são? Por que não se misturavam com os nativos, os "verdadeiros portugueses"? Pensem no porquê das nossas fronteiras? Quem são os espanhóis? Quem somos nós verdadeiramente? Por que é que uns, por muito que trabalhem, serão sempre pobres? Por que é que há tanta desigualdade em Portugal?
A América, que nunca teve uma verdadeira independência dos nativos mas apenas uma libertação dos colonos brancos em relação à metrópole, ainda está longe da consciência do que realmente se passou. No entanto, aparentemente e felizmente, alguns nativos estão a despertar para a sua realidade e estão a eleger nativos iguais a eles mesmos — mesmo contra toda a propaganda que é feita — para os mais altos cargos das nações — como Evo Morales na Bolívia — na esperança de que os seus tenham mais alguma consideração e respeito por eles. Apesar dos poucos casos, a propaganda dos senhores estabelecidos tudo faz para contar a história à sua maneira, e impor a sua visão da história. Até agora têm conseguido.
Se até podemos aceitar que um norte-americano se sinta orgulhoso da sua pátria — porque lhe proporciona uma vida digna e com condições para singrar em qualquer área e é um dos países com mais direitos civis — já é difícil perceber um infeliz etíope, tailandês, ucraniano ou até português com orgulho. Em casos de países com uma justiça muito deficitária, sem uma educação decente e que asfixia a sua população com impostos até ao tutano, cheios de corrupção, com economias baseadas em salários baixos e que não deixam alternativa ao seu povo que não emigrar porque os seus governantes não passam de corruptos insensíveis, por que razão há patriotismo? Porque o país libertou-se de um opressor e passou a ter um ainda maior? Porque teve glórias há 300 anos atrás, ou há 1000? Porque ganhou um jogo de futebol? Porque tem a melhor gastronomia do mundo? Porque um ciclista ganha umas etapas no Tour de France? Porque um zé qualquer fez algo extraordinário? Realmente é preciso muita propaganda num país infeliz destes para que os servos continuem a acreditar que é possível singrar. Um país que vive de excepções só mesmo os idiotas podem continuar a acreditar.
Uma das estratégias que os senhores geralmente usam para sua defesa é criar um inimigo externo — o que coloca mais em perigo a sua soberania ou o seu poder internacional — na maior parte das vezes, o seu vizinho e em muitos casos até é aquele com quem tem mais afinidades. Em caso do país estar em convulsão é sempre importante usar esta estratégia para criar uma unidade e evitar que o povo se revolte contra os seus senhores apesar de viverem em profunda miséria. Por que crêem que o Estado não desmascara a mentira que é a Religião? Porque a religião é importante para resignar o povo à sua sorte e aceitar o que tem, ou seja nada ou muito pouco. É a vontade de Deus, dizem eles. Que maneira mais fácil para levar à resignação dos oprimidos do que lhes dizer que todo o drama que vivem não é culpa dos seus senhores mas sim do Divino, algo tão forte que ninguém pode vencer? O conluio entre estes dois opressores é o que mantém o povo preso na sua infelicidade e impede-o de se revoltar. 
Reparem no caso português: o seu “inimigo mortal” era Espanha e conseguiu pôr um povo todo a sentir um ódio de morte a este estado. Espanha à qual pertencemos civilizacionalmente, geograficamente, etnicamente, culturalmente,  mas que os donos de Portugal por razões egoístas ou por interesses próprios, se preferirem, conseguiram construir uma narrativa de isolamento e são bem sucedidos pois poucos fazem ideia da nossa umbilicalidade com Espanha. Imaginem o terror que seria para este nosso povo pertencer a uma unidade ibérica: melhores salários, melhor justiça, melhor sistema de saúde, melhor desporto, produtos mais baratos, mais cultura, mais educação etc. Mas como aprendemos a amar a pátria tal como amamos a Deus, é algo que não nos pode passar pela cabeça porque é pecado/traição. Vêem a patranha? Vêem o interesse por detrás?
Pode algo ser mais estúpido do que um homem ter o direito de me matar porque ele vive do outro lado do rio e o seu senhor ter um litígio com o meu, embora eu não tenha nenhum com este homem? - Blaise Pascal
A questão é: devemos amar algo que nos oprime, que não nos proporciona condições de vida para termos uma vida digna, que apenas nos pede sacrifícios e apenas nos proporciona pouco mais que miséria? O patriotismo impõe-nos esse amor, assim como a fé nos impõe um amor cego à irracionalidade dos Deuses. Ganha o povo algo, na maioria dos casos, com a guerra ou será que quem ganha são os seus senhores?  Já pensaram que se tivessem nascido no Paquistão seriam orgulhosos paquistaneses e acérrimos defensores do Islão? Está na altura de nos libertarmos destas amarras que nos foram impostas desde que nascemos, que nos impede de pensar por nós mesmos e sermos verdadeiramente livres. A razão do Estado existir é servir o povo e não servir-se do povo diz-nos a teoria, mas na prática verifica-se o contrário.
E a bandeira que jurares
servirá para ti? servirá alguém?

Nunca terás um mundo pacífico até arrancares o patriotismo fora da raça humana.
George Bernard Shaw

A religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns sossegadas.
Napoleão Bonaparte

O Blasfemo


Ora, vimos no post anterior que afinal o terrorista podia, em muitos casos, não ser a pessoa horrível que nos levam a crer, não é verdade? E o blasfemo será que é alguém horrível, alguém que deve ser calado, torturado e até morto? Bom, durante muito tempo, nas nossas sociedades, passou-se assim e ainda se passa assim noutras sociedades mais retrógradas em que a religião tem peso no Estado. Mas afinal o que é a blasfémia? O dicionário diz-nos: “dito ímpio ou insultante contra o que se considera como sagrado” e ímpio quer dizer: desumano, cruel, homem sem piedade. Que pessoa desprezível deve ser esta pessoa, não? Não, o sagrado, os dogmas, as verdades absolutas devem ser questionadas o tempo todo e nunca as pessoas devem ser impedidas de pensar pela sua própria cabeça. Antes pelo contrário, devem proporcionar às pessoas meios para que possam pensar por si. Mas obviamente que as igrejas não querem que pensemos pela nossa cabeça, daí que, tentem impedir a qualquer um que raciocine e questione as tais verdades sagradas.
Vamos agora colocar-nos no lugar das religiões: Defendiam e todavia defendem teorias que a Ciência já destroçou, mitos sem qualquer sustentação científica, e as pessoas cada vez mais expostas a outras ideias podem a qualquer momento ousar pensar pelas suas cabeças e tornar as religiões inúteis. É sem dúvida um cenário que as religiões pretendem evitar a todo o custo e incutem no povo o medo de ousar pensar diferente: falam-lhes em Inferno, o local mais horrível para quem ousar renegar a Deus ou sequer questionar o que quer que seja. Pelo contrário, para quem tem fé, para quem aceita sem questionar, sem pensar, esses, os mais virtuosos, para esses estará reservado o Céu, o Paraíso. Muito interessante, não é? Em tempos passados qual era a escola do povo? A igreja, pois está claro, e o povo aprendia muito bem a palavra do “Senhor” à qual limitava-se a dizer “ámen”.
blasfémia
Não nos podemos esquecer que a Igreja é uma instituição, e tal como o Estado, faz tudo ao seu alcance para subsistir. E a Igreja não subsiste sem fiéis, não é verdade? A blasfémia foi uma grande invenção para perpetuar o poder e manter os seus fiéis, à custa da ignorância do povo, que sentia, e infelizmente ainda sente, que a sua fé é motivo de orgulho. Quando alguém diz algo contrário à doutrina oficial dos “pastores” estes devem ser julgados em nome de Deus que não aceita qualquer dissidência ao pensamento único. Então, a blasfémia é, apenas, um instrumento para impedir que alguém do rebanho se perca e que possa influenciar as outras.
A primeira linha de defesa desta instituição são os seus próprios fiéis que eram convidados a denunciar todos os casos de heresia que tivessem conhecimento entre eles. Isto passou-se no tempo da Santa Inquisição portuguesa, e outras congregações subsequentes com o mesmo intuito, e daí advém este espírito de bufaria e ódio que perdura até aos nossos dias. Tudo o que é diferente, alguém que se atreve a pensar diferente, a vestir-se diferente, a ser diferente, é imediatamente reprovado pelo rebanho. Isto ainda é sentido hoje, o pecado, a heresia, a blasfémia ainda é algo temido, por muitos, nos dias de hoje. Já não se teme a tortura ou a pena de morte, mas o ostracismo, o estigma, repúdio e maledicência que o rebanho ainda vota ao dissidente.
Este tema será expandido quando abordarmos em concreto as religiões e as mentiras que propagam para perpetuar a elite que beneficia do sistema no poder e o povo resignado à sua sorte pela vontade do Senhor.
A religião é o que impede os pobres de assassinar os ricos. - Napoleão Bonaparte