segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Bófia



E a vida segue e o mundo continua a girar como sempre; cada um protege o que pensa que tem direito sem se importar com o outro, nunca percebendo que só a solidariedade entre os oprimidos lhes pode proporcionar um melhor nível de vida. Mas cada um de nós, que não passa fome e tem casa, prefere assumir um papel moralista sobre os que estão pior sem perceber — nem fazendo qualquer esforço para perceber — a história e as circunstâncias de quem está numa situação menos confortável e precisa de ajuda.


Serve isto como introdução para a atitude da polícia, no Parlamento, em que estes ao escutarem pela voz do Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, que não poderiam ser comparados a outros funcionários públicos, rejubilaram não contendo uma enorme salva de palmas. O que interessa se todos os outros funcionários públicos estão na lista para serem despedidos e que passem a viver em grandes dificuldades? Não interessa para nada, nós, polícia, somos especiais e por isso o Ministro tem o nosso apoio.


Mas se fossem os polícias os únicos a tomar esta atitude até se poderia dizer que não era muito mau, mas o problema é gravíssimo quando vemos que é cada classe, cada grupo, cada indivíduo a pensar isoladamente em si. Não há solução com estas atitudes e isto leva ao ódio entre as pessoas, ao medo, a retaliações e caminha-se a passos largos para algo bastante grave, não só em Portugal mas em toda a Europa. A elite divide e reina e poucos se apercebem do óbvio.


Portugal está já há vários anos com cortes no sistema social, cada vez mais brutais que no ano anterior e o que é que se verifica nas pessoas? Um retrocesso a todos os níveis especialmente no que toca à boa convivência social e à educação e respeito por todos, algo que só se alcança quando existe um estado social que providencie uma vida digna aos mais desfavorecidos e condições de sucesso a quem se esforça por obter algo mais. O mais triste é saber que nada destas medidas vão providenciar um futuro melhor para a maioria das cidadãos deste país, mas vão, sim, enriquecer uns quantos grupos poderosos que chupam até ao tutano o rendimento do trabalho de um povo novamente a caminho da miséria. A história repete-se e o povo segue alienado como sempre.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Porcos (três tipos diferentes)



Sábado foi dia de uma suposta grande manifestação por todo o nosso Portugal mas convém dizer que foi praticamente um não acontecimento. Porquê? Porque não houve grande publicidade e nesse sentido as pessoas não sentindo aquele frenesim de algo grande e a que todos se querem associar, simplesmente ninguém se dá ao trabalho de por lá aparecer. Se ninguém faz nada e todos calam e consentem, nada impede os porcos de continuar a fazer o que lhes dá na real gana. Mas para um povo estar assim resignado, algo que só se alcança à custa de muito endoutrinamento, temos que felicitar os nossos porcos por feito tão revelador.

Grande homem, homem porco
Ha, ha, que embuste tu és
tu próspero poderoso
Ha, ha, que embuste tu és
E quando a tua mão está no teu coração
És quase uma boa risada
Quase um bobo
Com a tua cabeça no caixote dos porcos
dizendo “continuem buscando”
Manchas de porco no teu queixo gordo
O que esperas encontrar
Em baixo na mina dos porcos?
És quase uma anedota
És quase uma anedota
Mas és realmente uma lástima

Paragem de autocarro, mala de rato
Ha, ha, que embuste tu és
Sua bruxa velha toda fodida
ha, ha, que embuste tu és
Irradias raios frios de vidro partido
És quase uma boa piada
Quase merecedora de um sorriso forçado
Gostas do sentir do aço
És toda importante com um alfinete de chapéu
E divertida com uma pistola
És quase uma anedota
És quase uma anedota
Mas és mesmo uma lástima

Ei tu, Whitehouse
ha, ha, que embuste tu és
Sua fanática por limpezas, rata de cidade
ha, ha, que embuste tu és
tentando manter os nossos sentimentos fora das ruas
És quase um verdadeiro regalo
Lábios apertados e temerosa
E sentes-te abusada?
Tens que impedir que a vaga maléfica se espalhe
E mantê-la toda dentro
Mary és quase um regalo
Mary és quase um regalo
Mas és mesmo uma lástima

O primeiro tipo de porcos são os ricos, donos das grandes empresas, os grandes capitalistas. O Roger não especificou nenhum em concreto, até porque são muitos, mas cá no nosso burgo eu identificaria o Alexandre Soares dos Santos com os seus conselhos patrióticos hipócritas que vamos vendo quando se presta a aparecer-nos na televisão. Ha, ha, Santos, que embuste que tu és!

 Os políticos são o segundo tipo de porcos, que neste caso tem a cara de Margaret Thatcher e imaginem que ela na altura ainda nem sequer era a líder do governo britânico — apenas do Partido Conservador — mas mesmo assim já não enganava Waters. Cá para nós, não consigo pensar em melhor exemplo que o Paulo Portas — mas há muitos mais, como o Cavaco, Rebelo de Sousa, Nuno Melo, Durão Barroso etc — até pelas suas tendências “obscuras” de cabeleira postiça. Paulinho, ha, ha, que embuste que tu és!

O terceiro tipo de porcos são os moralistas que querem impedir que o rebanho se “descontrole” e perca os valores sagrados que nos foram legados por Deus e que em Inglaterra tinha como figura proeminente a muito badalada Mary Whitehouse. Em Portugal que melhor exemplo que o João César das Neves? ha, ha, que embuste que tu és, Neves!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Quem Somos e Como Chegamos Aqui – III – A vida na Idade da Pedra





Como nos comportávamos e pensávamos? Nós nem nos apercebemos nem temos consciência disso, mas a maior parte do nosso tempo neste planeta fomos recolectores e caçadores e vivemos a maior parte do tempo em grandes comunidades, em liberdade e muito distantes de termos os códigos morais que nos regem actualmente. Assim, apesar de tudo o que aprendemos culturalmente e das regras morais e legais que a sociedade nos impõe, subconscientemente, ainda estamos na idade da pedra (psicologia evolutiva).

Hábitos Alimentares – Praga da Obesidade
No passado, se encontrássemos algo doce por onde quer que andássemos em busca de alimento, racionalmente comeríamos tudo de uma vez porque a comida era escassa e porque não poderíamos dar-nos ao luxo de deixar para outro dia pois correríamos o risco muito forte de já lá não encontrarmos nada. Hoje o nosso ADN diz-nos exactamente a mesma coisa que nesse passado remoto, ou seja, que devemos comer o máximo que podemos para sobreviver. Nós evoluímos muito mais rápido que o nosso ADN, que nos considera como se estivéssemos na Savana, e por isso temos esse comportamento natural. 

Vida Sexual e Relações Familiares
As pessoas viviam em comunidades e não tinham relações monogâmicas: mulheres e homens tinham relações sexuais e encontros “românticos” com vários homens e várias mulheres — relações heterossexuais e homossexuais. Não existia, claro está, qualquer conceito de casamento para toda a vida e família nuclear.
Todavia isto não quer dizer que as relações fossem consideradas “noitadas” ou relações promiscuas, com uns e com outros, pois dentro da tribo todos se conheciam muito bem ao ponto de se poder dizer que se conheciam melhor do que muitos casais dos dias de hoje, até porque passavam a maior parte do tempo juntos cuidando-se uns dos outros, algo que a maior parte dos casais de hoje não se podem dar ao luxo.
As crianças não eram criadas pelo casal, mas pela tribo, até porque nunca se sabia quem seria o pai. As mulheres, no seu melhor entendimento, queriam acasalar com vários homens da tribo para que os seus filhos colhessem as melhores características de cada parceiro.

Se esta teoria se verifica verdadeira está fácil de entender os imensos problemas amorosos das nossas culturas — fomos biologicamente preparados para viver de uma maneira que entra em conflito com as normas morais e até legais das nossas sociedades modernas.

Mas como a nossa linguagem se volveu ficcional cada tribo construiu a sua história particular e torna-se difícil, assim, podermos afirmar com total segurança qual é o nosso comportamento natural porque algo que é tabu para uma tribo pode ser normal para outra.


A grande maioria dos humanos vivia em pequenos bandos sem a presença de qualquer animal com a excepção de cães. Estes foram os primeiros animais domesticados pelos humanos — uma versão mais dócil do lobo que foi apurado para protecção da nossa espécie, seja como sistema de alarme contra perigos, seja para ajuda na caça, ou mesmo como protecção. Uma característica que facilmente distingue um lobo de um cão é o facto de uns ladrarem e outros praticamente não o fazerem. O homem dedicou-se a apurar esta característica para sua conveniência. Com o tempo a relação do homem com o cão tornou-se tão importante que ainda hoje dizemos que é o nosso melhor amigo.

Tanto a solidão como a existência de uma vida privada eram situações raras naqueles tempos; havia algumas lutas entre tribos mas a cooperação é algo que se pensa ter sido mais comum:
  •        Trocas comerciais
  •        Intercâmbio de elementos das tribos
  •        Celebrações religiosas comuns
  •        Alianças contra outras tribos


Viviam em um território particular mas não no mesmo local pois consoante a estação do ano teriam que buscar alimento em locais diferentes. Em casos excepcionais alguns bandos fixar-se-iam em determinados locais por meses e às vezes até poderia chegar a um ano. Nas zonas costeiras, junto ao mar, rios, lagos e oceanos, poder-se-ia encontrar acampamentos permanentes bem antes da Revolução Agrícola.
Estas vilas piscatórias surgiram há 45 mil anos atrás nas ilhas da Indonésia e foram a base para a invasão da Austrália pela nossa espécie.
Tínhamos uma dieta variadíssima e comíamos coisas como insectos, raízes, tartarugas, sapos, cervos, mamutes etc. Neste período a economia recolectora era a mais importante para a maioria dos bandos e a sobrevivência dependia da nossa forma física e mental que tinha que ser apuradíssima. Individualmente estes humanos sabiam muito mais coisas do que um indivíduo nos dias de hoje e há até evidências que o tamanho dos nossos cérebros tem vindo a diminuir desde a Revolução Agrícola.



Estes recolectores, podemos afirmar, em muitos domínios tinham melhor vida do que nós nos nossos tempos, senão vejamos:


Países Desenvolvidos
Em Desenvolvimento
Recolectores
Horário de Trabalho
40-45 hrs/semana
50-80 hrs/semana
35-45 hrs/semana
Trabalho em Casa
Sim
Sim
Não


Trabalhador Comum Actual
Recolector
Sai de casa às 7 da manhã
Deixa o acampamento às 8 da manhã
Às 8 da manhã chega ao trabalho
Procura comida com os amigos
Trabalha na mesma máquina durante 10 hrs
Às 3 da tarde regressa ao acampamento
Leva uma hora a regressar a casa
Come e murmura com os amigos
Faz o jantar, lava os pratos, cuida da casa
Faz o que quer

Concluímos, pois, que estes recolectores tinham uma vida muito mais interessante e muito melhor alimentação do que os Sapiens pós Revolução Agrícola.

Por que razão tinham os recolectores melhor dieta do que os camponeses?
Porque os recolectores tinham acesso a uma variedade enorme de comida, enquanto, os camponeses passaram a depender apenas de uma colheita em concreto, ou por vezes de uma outra, o que não é de todo bom para a nossa saúde. Além do mais a dependência de uma determinada colheita coloca em risco de fome toda a tribo se algo de terrível acontece à colheita. A esperança média de vida era praticamente igual e situava-se entre os 30 e 40 anos, mas devia-se à enorme taxa de mortalidade infantil, no entanto, nas sociedades recolectoras, se se conseguisse atingir a idade de 20 anos era muito provável e bastante frequente alcançar-se os 60, 70 e até 80 anos.
Com a Revolução Agrícola muitos animais passaram a viver com os humanos em vilas e cidades em condições de higiene praticamente inexistentes e surgiram doenças infecciosas, derivadas dos animais. que dizimaram populações inteiras. As sociedades recolectoras continuavam saudáveis, mais livres e por conseguinte mais felizes.

Vida espiritual
Antes da Revolução Agrícola os Sapiens tinham crenças animistas, entidades com quem podiam comunicar directamente, como as rochas, montanhas, rios, árvores, coisas materiais como estas atrás referidas, assim como imateriais tais como fadas e demónios. Acreditavam que tudo possuía uma alma, um espírito. Os humanos podiam fazer todo tipo de tratados com estas entidades físicas enquanto os xamãs tinham o poder interceder sobre os espíritos. Não havia hierarquias, nem deuses poderosos, portanto todos tinham o mesmo estatuto. Não se pode falar numa religião específica mas apenas num nome que cobre uma vastidão de crenças — Animismo.
Com a Revolução Agrícola começam a aparecer os “grandes deuses” e passam a ser a forma de religião mais comum entre os sapiens. Sem embargo as diferenças entre estas religiões dos “grandes deuses” não seriam menores do que as diferenças entre as crenças animistas.

Política e Actividade Guerreira

Não dispomos ainda de muitas evidências sobre como se organizavam politicamente mas foi encontrado em Sungir, Rússia, a tumba de 3 indivíduos — 1 maior e 2 menores — que ostentavam uma riqueza acima da média.
Existem 3 teorias para esta descoberta:
  1.   Uma vez que as crianças eram demasiado pequenas para terem provado algo de especial, deviam o seu estatuto aos seus pais 
  2. Tinham sido identificadas como a reencarnação de um velho espírito
  3. Foram sacrificadas num ritual.


Isto prova que há 30 mil anos a nossa espécie já podia inventar códigos político-sociais que iam para além dos ditames do nosso ADN e dos padrões comportamentais de outros animais. Evidencia igualmente desigualdade social e hierarquias pelo menos em alguns bandos.

Quanto à guerra há várias teorias: uns afirmam que antes da Revolução Agrícola não havia muito por que lutar. Outros afirmam que sempre foi muito violento devido à nossa intolerância intrínseca com a diferença. A verdade é que não há evidências que provem violência em grande escala no período pré-Revolução Agrícola, mas uma vez que somos capazes de construir realidades como bem entendemos, é bem possível que algumas tribos tenham arquitectado as suas sociedades em torno da violência e outras em torno de formas de vida mais pacíficas.

  

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Quem somos e como chegamos aqui – II – A Revolução Cognitiva

Quem somos e como chegamos aqui –

 II – A Revolução Cognitiva


Há 2 milhões de anos atrás havia várias espécies de humanos mas há 75 mil anos atrás, a nossa espécie, os Sapiens, e apenas estes, conseguiram colonizar o mundo inteiro.

Por que razão apenas nós e apenas há 75 mil anos?

Não é de resposta simples, até porque há 100 mil anos atrás já tinham um cérebro como o nosso e fisicamente eram iguais a nós, mas por esta altura não tinham feito nada de especial nem eram mais espertos do que qualquer outra espécie humana.
Sabemos que na primeira tentativa de sair de África, há 100 mil anos atrás, quando chegaram ao Médio-Oriente foram rechaçados pelos Neandertais, evidenciando a sua maior força física e melhor adaptação a este ambiente.
Há 75 mil anos algo especial aconteceu. Os Sapiens desta vez ganharam aos Neandertais e num pequeno período de tempo alcançaram o resto do mundo. Há 45 mil anos atrás atravessaram o mar alto e chegaram à Austrália, assim como, atravessando o Estreito de Bering, alcançaram o continente americano. Para atingir tamanhos feitos tiveram que se adaptar muito rapidamente a outros climas para os quais não estavam inicialmente preparados.

Desenvolveram novas tecnologias: jangadas, barcos, lâmpadas a óleo e a agulha.
Entre há 40 mil e 50 mil anos a nossa espécie humana desenvolveu, no que agora chamamos Indonésia, a primeira sociedade marítima que lhes permitiu progredir a sua “tecnologia naval” e assim alcançar a Austrália, Japão, a Ilha Formosa etc.
Neste mesmo período inventaram a agulha que lhes permitiu coser roupa e fazer todo o tipo de roupas e tendas que lhes permitiu viver em climas mais frios, sendo esta invenção vital para terem conseguido alcançar a América.
Não menos importante foi a invenção das lâmpadas a óleo que lhes permitia pintar dentro de cavernas e esta invenção foi a chave para a revolução artística.
Há 30 mil anos atrás aparecem as primeiras evidências de religião

Que mais aconteceu há 70 mil anos que nos fez tão especiais?

Antes deste período fazíamos os mesmos utensílios que os outros humanos, mas a partir desta altura não paramos mais de inovar: Arte, joalharia, trocas comerciais, sociedades complexas — centenas de pessoas ao contrário das outras espécies que não ultrapassavam as dezenas. E a capacidade única, e extraordinária, de acreditar em coisas que não existem. Estas só existem na mente imaginativa do Sapiens.
Tudo isto só foi possível devido à revolução cognitiva que nos sucedeu há 70 mil anos atrás.
Habilidades cognitivas:
  •  Pensar
  •  Lembrar
  •  Comunicar
  • Aprender

A História começa com a revolução cognitiva


Como é que isto acontece e porquê?
Provavelmente uma pequeníssima alteração na estrutura interna do nosso cérebro, uma mutação menor, como que duas partes do nosso cérebro se ligassem.

Por que razão apenas aconteceu aos Sapiens?
Sorte pura. Se isto não tivesse ocorrido provavelmente já estaríamos extintos ou, quem sabe, seríamos governados por Neandertais.

Linguagem — O que tem a nossa linguagem de especial?

  •   Não é a única linguagem nem sequer foi a primeira a aparecer.
  •   É muito pouco provável que tenha sido a linguagem per se, que nos tenha tornado especiais.

1ª Teoria:
Apesar de outros animais terem a capacidade para fazer chamamentos vocais, nós podemos partilhar todo o tipo de informação, sobre rios, montanhas, leões e não simplesmente sons básicos pois temos a capacidade para discutir todo o tipo de informações sobre o mundo.

2ª Teoria:
A coisa mais importante da nossa linguagem não é a nossa habilidade para partilhar informação sobre rios, montanhas, leões e o mundo, mas sim a capacidade de compartir informação sobre nós próprios. A nossa linguagem evoluiu para que possamos murmurar, bisbilhotar.
Nos dias de hoje, alguns de nós, tendemos a considerar que a bisbilhotice e os murmúrios incessantes do povo são algo desagradável e até tendemos a ter uma certa pena da vida vazia destas pessoas que nada mais têm que fazer, mas foi um “defeito” fundamental para que os sapiens alargassem o seu número de “conhecidos” e pudessem fazer maiores alianças. Os Sapiens são um animal social e a cooperação social é a chave para sobrevivência e reprodução. É muito mais importante para a tua sobrevivência saber o que se está a passar na tua tribo do que ter informação sobre leões, montanhas ou rios. Quem odeia quem? Quem anda a dormir com quem? Quem é honesto? De confiança? Todas estas respostas são vitais para as importantes decisões que têm que tomar.

Todos os outros grandes primatas têm interesse em assuntos sociais mas não têm capacidade para murmurar convenientemente devido à sua linguagem limitada.
Tanto os Neandertais como os Sapiens, há 100 mil anos atrás, mostravam interesse em assuntos sociais mas devido à sua limitação linguística não conseguiam murmurar sobre os outros, falar nas costas dos outros, e isto, por incrível que pareça, impediu que pudessem colaborar em grandes números. A nova linguagem do Sapiens, que surgiu há 70 mil anos atrás, permitiu-lhe murmurar sobre outros indivíduos e com isto conhecer muitos mais elementos, levando assim ao desenvolvimento de sociedades mais sofisticadas e unidas aptas a cooperar melhor.

Esta teoria é suportada por estudos de psicologia, sociologia, economia e até biologia.
A maioria das nossas comunicações, mesmo nos dias de hoje, são murmúrios. É o que as pessoas mais gostam de falar e geralmente estes murmúrios são sobre o que os outros fazem de mal, o que acaba por ter uma função de policiamento sobre os outros. Quem quebrasse as regras da tribo, a moral, a norma, acabava com todos os outros a terem má opinião sobre aquele que infringe. Se nos dias de hoje a coisa é má e nos traz alguns problemas, imaginem como seria no passado. Nesse tempo era simplesmente uma condenação de morte.

Ambas as teorias são boas mas são apenas uma parte da história.

O atributo mais importante na nossa linguagem é podermos transmitir informação sobre coisas que não existem:
  •       Lendas
  •     Deuses
  •     Mitos   
  •     Religiões

Há muitos anos atrás alguém disse algo como: “a mulher leoa é a guardiã da nossa tribo” e os outros todos tenderam a concordar e algo extraordinário começou a verificar-se. Algo surpreendente que não se verifica com mais nenhum animal. 
À linguagem dos Sapiens dá-se o nome de linguagem ficcional.

Foi este atributo benéfico para a nossa espécie?

Foi mais que benéfico e até podemos dizer que foi essencial para nos tornar a espécie dominante do planeta. Porquê? Porque nos permitiu criar realidades colectivamente, como a história da criação bíblica, o mito nacionalista dos estados modernos, ou o mito do “tempo do sonho” dos aborígenes australianos. Com estes mitos proporcionou-se à nossa espécie a habilidade de colaborar em números extraordinários que de outra maneira seria completamente impossível ao mesmo tempo que nos dá flexibilidade para colaborar de acordo com a história que se invente.

Existem outros animais que colaboram em grandes números mas apenas para um determinado propósito — como as formigas ou abelhas — não se conseguindo adaptar a novas possibilidades ou desígnios. E outros animais que são flexíveis, podendo adaptar-se consoante a oportunidade que surgir — como os lobos ou os chimpanzés — mas não têm a habilidade de cooperar em grandes números. Os Sapiens, devido a esta característica singular da nossa linguagem, são os únicos animais que conseguem tanto colaborar em grandes números como adaptar-se em função da oportunidade que surja.

Como funcionam as sociedades dos chimpanzés?
  •      Em grupos de 30, 40, 50 ou 60 elementos.
  •      Caçam juntos.
  •      Lutam juntos contra grupos de chimpanzés inimigos ou babuínos.


                           Hierarquia - Macho Alfa
  •      Ataca para manter a estabilidade social
  •      Fica com a melhor comida
  •      Impede que os machos de nível inferior acasalem com as fêmeas


Como é que se alcança o “estatuto” de macho alfa?

Não é apenas uma questão de força física, pois não se consegue ser o macho alfa apenas por dominar todos os outros fisicamente. Se algum o tenta, em pouco tempo teria que enfrentar uma coligação de chimpanzés que lhe retiraria o poder. Apenas alcanças o poder se construíres uma coligação com o apoio de tanto machos como fêmeas. Assim, chimpanzés fisicamente mais débeis podem alcançar o estatuto de macho alfa.

Como o fazem? (qualquer semelhança com os políticos em alturas de campanha é pura coincidência…)
  •      Contacto diário com os outros membros do grupo
  •      Favores mútuos
  •      Abraços e cumprimentos
  •      Beijos aos bebés
  •      Oferecem bananas em troca de apoio
  •      Fazem imensas coligações dentro do grupo


Mas há limites para as sociedades dos chimpanzés. Como são sociedades bastante hierarquizadas, estes não sabem como reagir perante novos membros: se estão acima ou abaixo da sua posição. Têm que se conhecer muito bem para funcionarem colectivamente e por isso só em raríssimas excepções podemos encontrar um grupo com mais de 100 chimpanzés. Os vários grupos que se formam são inimigos que competem entre si por comida e território e até, em certas ocasiões, acontecem genocídios. 

Antes da revolução cognitiva nós éramos assim até que com o murmúrio ou bisbilhotice nos permitiu tomar conhecimento de mais elementos. Mas não podemos murmurar sobre milhões de pessoas e segundo estimativas, com base científica, só se pode fazer isto de forma efectiva até um máximo de 150 elementos.
Como é que o Sapiens pode então colaborar com mais elementos, com pessoas que não conhece nem nunca ouviu falar?
O segredo é a nossa linguagem ficcional, que consegue criar mitos em que um número extraordinário de elementos pode acreditar — histórias que só existem na cabeça da nossa espécie.

Exemplos de ficções:

Igrejas — Católicos que nunca se encontraram antes podem ir para a guerra, lutar lado a lado, apenas porque ambos acreditam no céu e no inferno.

Estados – Portugueses que nunca se encontraram antes irão para a guerra apenas porque acreditam na nação portuguesa, na sua bandeira.

Mito Económico – Dois empregados da Vodafone cooperam ainda que nunca se tenham conhecido antes pois ambos crêem na Vodafone e em Euros.

Dois advogados cooperam para ajudar um estranho porque ambos acreditam na justiça, na lei, e nos direitos humanos- — Mito da lei.

Nada destas coisas, que temos quase como sagradas, existem além das mentes férteis do Sapiens. Não existem Deuses (ou Deus), nações, corporações, leis, dinheiro, direitos humanos, justiça de qualquer tipo, fora da imaginação da nossa espécie.

As nossas modernas instituições funcionam da mesma maneira que as antigas no passado.
As tribos primitivas cimentavam a sua ordem social acreditando em fantasmas e juntando-se à volta de fogueiras, mas nós falhamos em nos aperceber que as nossas sociedades funcionam da mesma maneira.
Os nossos advogados e grandes homens de negócios estão para o nosso tempo como os poderosos feiticeiros estavam para os tempos remotos. A grande diferença é que os nossos feiticeiros modernos contam-nos histórias bem mais estranhas do que os velhos feiticeiros.
Antigos xamãs diziam que tinhas que te comportar de uma determinada maneira senão estarias insultando os teus ancestrais e estes se iriam enfadar e castigar-te. É fácil de perceber o que é um fantasma que estes feiticeiros falam.
Os feiticeiros dos tempos modernos também te avisam que deves comportar-te de determinada maneira ou determinada corporação castigar-te-á.


Mas o que é exactamente um corporação?
Começo por relembrar que não há outra maneira para que sapiens cooperem em grandes números que não pela criação de mitos que só existem nas nossas cabeças.
Vamos dar o exemplo da Peugeot, que, por coincidência ou não, tem por símbolo um leão, fazendo lembrar aquela estatueta descoberta na Alemanha que nos prova a existência de religiões. Começou por ser uma pequena empresa e neste momento conta com mais de 200 mil funcionários.

O que é a Peugeot?
São os carros? Não, a empresa continuará mesmo que todos os carros se destruam.
As máquinas da empresa? Não, mesmo que todas as máquinas se destruam a corporação substituirá por novas.
Os empregados? Não, todos os empregados podem ser substituídos
Os detentores das acções? Também podem ser substituídos
É imortal? Não, um juiz pode pronunciar as “palavras mágicas” e dissolver a companhia.
O que é uma corporação afinal? É ficção, apenas existe nas nossas cabeças.

No passado qualquer propriedade apenas podia ser possuída por pessoas de carne e osso. Se uma pessoa tivesse uma loja que produzisse carroças e uma das suas carroças vendidas tivesse defeito, tu podias pedir responsabilidades ao dono da loja. Se o dono da loja não pudesse pagar o empréstimo que tivesse contraído ele teria que assumir a responsabilidade e em último recurso poderia ser feito escravo assim como a sua família.
Isto envolvia demasiados riscos e as pessoas preferiam não arriscar. Então agora é a empresa que assume os riscos e não os donos.

Como foi isto criado? “Hoc est corpus meum” – Este é o meu corpo.
Expressão latina que significa "este é o meu corpo" mas ao ser ouvida pelo povo inculto volveu-se “hocus pocus”  (palavras mágicas)

Direito Comercial (história ficcional)
  •     Se um advogado certificado vestido com as suas roupas impressionantes
  •     Se este seguir todos os rituais apropriados
  •     Se puser a sua assinatura em um papel impressionante
  •     "Hocus Pocus" uma nova companhia ganha “corpo”

A grande dificuldade é fazer crer a milhões de pessoas em estas histórias (deuses, nações, direitos humanos etc.). Quando alguém é bem sucedido consegue um imenso poder sobre as pessoas.

Mentir não tem nada de especial, pois outros animais também o fazem. Realidades imaginárias é completamente diferente, pois as pessoas realmente crêem nelas. Alguns são charlatões e aproveitam-se da ilusão para tirar proveito, mas a maioria acredita realmente nas ficções. Nós vivemos em ambos os mundos: o mundo verdadeiro e as construções sociais. É isto que permite ao sapiens cooperar em grandes números.

Estas histórias ficcionais podem mudar muito rapidamente e inesperadamente: os franceses passaram de acreditar na sacralidade do poder dos reis para acreditar que o poder pertence ao povo.
Enquanto as revoluções nos outros animais só acontecem se existir uma mutação genética ou transformações ambientais drásticas, o Sapiens pode muito facilmente alterar os seus gostos, costumes, crenças, ideias, comportamentos, consoante a realidade ficcionada que esteja em vigor no seu ambiente.
Dois casos no mesmo período de tempo. Um alemão e um português que tenham vivido entre 1900 e 2000.

Berlim:
Infância – 2º Reich (dinastia de Hohenzollern)
Dos 18 até aos 33 – República de Weimar
Dos 33 até aos 45 – 3º Reich (Revolução Nazi)
Dos 45 até aos 89 – Alemanha de Leste (Comunismo)
Dos 89 até à morte – Reunificação (capitalismo, democracia)

Lisboa:
Infância – Monarquia Constitucional
10 Anos – 1ª República
Aos 26 anos – Ditadura Militar e Estado Novo (Ideário Fascista)
Aos 74 anos - Socialismo Revolucionário (Ideário Marxista)
76 Anos – Capitalismo Democrático


Estás a ver como tudo é uma mentira, uma ilusão, e que tu apenas andas ao sabor do vento em proveito de quem tem um olho em terra de cegos? Pois a história ainda está a começar.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Quem somos e como chegamos aqui? - I - A Família Humana



Quem somos e como chegamos aqui?

Para entendermos o mundo, para sabermos quem somos, como chegamos onde chegamos, o porquê das injustiças, das classes sociais, das religiões, nações e estados e tantas outras ficções, temos que estudar história, a origem da humanidade e de toda a nossa evolução. É isto que vos contar aqui nos próximos tempos, uma história que vos surpreenderá e vos custará a crer, mas que ficará para vossa reflexão e quem sabe para vossa libertação. Será bastante simplificada e até poderá ser considerada extremamente rudimentar, mas servirá o nosso propósito. No entanto, se assim desejardes, podeis sempre tomar o comprimido azul e acordar na vossa cama a acreditar naquilo que quiserdes acreditar. Bom, era uma vez…

Há 13 mil milhões de anos atrás deu-se o Big Bang — matéria, energia, tempo e espaço —  ao estudo destas questões chamamos Física.

Trezentos mil anos depois — matéria e energia combinam e formam Átomos que por sua vez combinam de forma mais complexa e dão origem ao que chamamos moléculas - a este estudo chamamos Química.

Há 4 mil milhões de anos atrás estas complexas moléculas desenvolvem-se ainda mais e formam criaturas com vida - ao estudo destas criaturas chamamos Biologia.

Há 70 mil anos atrás o Homo Sapiens junta-se e forma estruturas elaboradas a que chamamos culturas - o estudo destas culturas chamamos História.


Há 3 grandes revoluções na história da Humanidade

1.      Revolução cognitiva (há 70 mil anos atrás) — A transformação de um animal banal, no animal mais importante ao cimo do planeta. O Homo Sapiens, uma espécie de macaco africano, evolui ao ponto de ter habilidades cognitivas que o tornam no animal mais poderoso de todo o planeta.

2.   Revolução Agrícola  (há 12 mil anos atrás) — Domesticação de animais e plantas, primeiros assentamentos, aldeias, cidades, impérios.

3.  Revolução Cientifica  (há 500 anos atrás) — O homem vai descobrindo o mundo em que vive e começa a aprender as leis da vida. Até aqui a evolução era feita através da selecção natural  mas agora começa a ser possível alterar essa realidade de sempre.

I

O Início
A Família Humana


Os humanos surgem há 2500 milhões de anos em África Oriental mas eram apenas mais um animal, como os outros, sem qualquer importância. O Género Humano, ou Homo, subdivide-se em várias espécies, tais  como o Homo ErectusHomo Neanderthalensis, Homo floresiensis ou Homo Denisova. Para percebermos melhor o que queremos explicar, o Género Pantera subdivide-se pelas espécies Leão, Tigre, Leopardo, etc (em linguagem comum). A ideia que temos de que estas espécies humanas foram sempre dando origem a outras novas espécies mais evoluídas não é de todo verdade. A verdade é que a nossa espécie (sapiens) chegou a viver, no mesmo período de tempo, com outras espécies humanas.

Durante muitos anos fizemos crer, e a maior parte de nós acreditou, que eramos uma espécie distinta, vinda do nada, mas a ciência tem vindo a demonstrar que não é assim. No passado — há 6 milhões de anos atrás — tivemos um ancestral que teve duas filhas: uma evoluiu para ser ancestral de todos os chimpanzés e a outra evolui para se tornar ancestral de todos os humanos. Viemos todos da família dos “grandes primatas” (big apes) e os nossos relativos mais próximos são os orangotangos, os gorilas e, os mais próximos de todos, os chimpanzés.

Outras espécies humanas:
Homo neanderthalensis
Homo soloensis
Homo floresiensis
Homo erectus
Homo denisova
Homo sapiens

Há 100 mil anos atrás viviam, pelo menos, seis espécies humanas ao mesmo tempo. É provável que tenhamos matado todas as outras espécies tendo em conta a nossa intolerância inata perante a diferença. Mas também pode não ter sido assim…

Todas as espécies humanas tinham uma característica em comum: cérebros bem maiores do que qualquer outro animal do seu peso. Estes cérebros enormes eram também um problema porque é preciso alimentá-los, carregá-los e protegê-los. É estimado que 25% da sua alimentação era exclusivamente destinada ao seu cérebro e portanto tinham que passar muito mais tempo em busca de comida do que os outros Hominidae (great apes). Com o tempo os cérebros tornam-se ainda maiores à medida que a capacidade muscular diminui.

Seria uma boa estratégia para a sua sobrevivência? Um chimpanzé, por exemplo, é cinco vezes mais forte do que nós. Neste momento não temos qualquer dúvida que foi uma boa estratégia, mas há 2 milhões de anos atrás não parecia nada uma boa ideia.

Por que razão os nossos cérebros se tornaram maiores? Actualmente não há certezas absolutas, mas há uma hipótese bem plausível que mais adiante iremos identificar e explicar.
Outra característica destes humanos é que caminhava em duas pernas e isso proporcionava-lhe um visionamento mais amplo da savana para buscar mais facilmente alimento, assim como também os tornava mais conscientes das ameaças em seu redor. Igualmente libertava-lhes as mãos para outros propósitos tais como produzir objectos de caça (lanças, pedras afiadas etc) que lhes viriam a ser muito úteis.

Mas tudo na evolução tem um custo. A realidade é que nós fomos feitos para andar em 4 membros e a maior parte do nosso tempo evolutivo foi feito assim, portanto, quando decidimos começar a andar em 2 membros, o nosso esqueleto, a espinha dorsal e os músculos, sofreram grandes pressões e tivemos enormes problemas físicos. Com o tempo o nosso corpo foi-se adaptando, mas, como bem sabemos, ainda sofremos bastante com estes problemas que nunca foram completamente debelados.

As mulheres pagaram um preço mais elevado: caminhar em duas pernas faz necessariamente com que as duas pernas se aproximassem mais uma da outra. Com isto, o canal vaginal estreitou-se ao mesmo tempo que as crianças começaram a ter cabeças maiores, com cérebros maiores. Como está fácil de ver isto foi um enorme problema que provocou inúmeras mortes tanto às mães como aos filhos.

Qual foi a solução? A solução deu-a a natureza, com o tempo, que fez com que o nascimento se desse mais prematuramente quando as crianças ainda não estavam devidamente preparadas para o mundo exterior, mas, permitiam, com bastantes cuidados da tribo, maior probabilidade de sobrevivência tanto da mãe como dos filhos.
Em comparação com outros animais, em que vemos que pouco depois do nascimento já andam e mantêm várias actividades com os progenitores, os humanos demoram meses ou até anos para adquirir faculdades básicas.

Pelo facto de quando nascemos estarmos ainda em formação, especialmente mentalmente, podemos tornar-nos em qualquer coisa que nos incutam pois somos extremamente moldáveis e portanto podem educar-nos para sermos o que quiserem — cristãos, muçulmanos, comunistas, capitalistas, sportinguistas, judeus, benfiquistas, ingleses, franceses, amantes da paz ou da guerra, homofóbicos, xenófobos, racistas, nacionalistas, o que vos passar pela imaginação.
Nesta altura a nossa espécie estava ainda longe de ser o predador mais temível do mundo animal, como o é nos dias de hoje, mas, de facto, andava pelo meio da cadeia alimentar. Comíamos vegetais e os restos de carne que nos deixavam os outros predadores mais temíveis. 

Parece, segundo afirmam reputados historiadores, que a nossa “especialidade” era comer o tutano, deixados pelos outros carnívoros, a partir do momento em que tivemos utensílios que nos permitiam quebrar os ossos que mais nenhum outro animal conseguia.

Foi há apenas 400 mil anos atrás que começamos a caçar animais de grande porte e há 100 mil anos atrás que nos tornamos o “rei da selva” — o animal no topo da cadeia alimentar. De ponto de vista evolutivo foi um salto repentino para uma posição de tamanho poder e isso veio com um preço terrível para a natureza. Tem sido óbvio que o Homo Sapiens não está preparado para esta posição e as catástrofes que temos dado origem não pararam de suceder.

Há 300 mil anos atrás aconteceu algo extraordinário que nos mudou a vida para sempre: Aprendemos a controlar o fogo e este proporcionou-nos:
  1.  Luz na escuridão.
  2. Calor.
  3. Uma poderosa arma contra animais perigosos.
  4. Mudar o meio ambiente consoante as nossas necessidade.
  5. Ao queimar florestas providenciava alimentos em grandes quantidades.
  6. Cozinhar os alimentos.

·         Abriu novas oportunidades para os humanos comerem, tais como batatas ou arroz.
·         Ao cozinhar protegiam-se dos micróbios que os alimentos continham.
·         A digestão faz-se muito mais rapidamente.

Segundo alguns estudiosos esta revolução foi o que proporcionou aos humanos o desenvolvimento do cérebro. Uma vez que não precisávamos tanto do aparelho digestivo o nosso corpo evolucionou no sentido de nos providenciar um melhor cérebro.

Ao contrário de todos os outros animais em que o seu poder depende da sua força física, o humano, com o poder do fogo, passa a deter uma arma completamente desproporcional ao seu poder físico.

A nossa espécie, Homo Sapiens, surge, mais ou menos, entre 300 e 200 mil anos atrás no leste de África e há 70 mil anos expandiu-se para o médio-oriente e o continente euro-asiático onde se depararam com outras espécies humanas. O que é que acontece?

Há duas teorias, sendo que uma delas é bastante polémica.

Teoria de Miscigenação (interbreeding theory)
A teoria da miscigenação diz que os Sapiens, apesar dos conflitos e guerras que tiveram com as outras espécies, cruzaram-se e hoje em dia há povos que são uma mistura de espécies diferentes. Esta teoria foi durante muito tempo desconsiderada e até desincentivada pelas implicações que pode ter mas o facto é que se descobriu, em 2010, que a população europeia possui, pelo menos, 4% de ADN de Neandertal e os asiáticos possuem, pelo menos, 6% de ADN do homem de Denisova. Então neste momento, segundo esta teoria (corroborada por factos), podemos afirmar que não somos (europeus) puros sapiens mas uma mistura — neste caso de Sapiens com Neandertal — que deu origem a uma nova espécie. O mesmo se aplica aos asiáticos que serão uma mistura de homo Denisova como Homo Erectus e Homo Sapiens. Os sapiens puros, segundo esta teoria, seriam os africanos. Perante estas descobertas e conclusões percebe-se o problema que representa…


Teoria da substituição (replacement theory)
A teoria da substituição afirma que não houve qualquer contacto sexual entre as várias espécies e era a teoria politicamente correcta em que ninguém queria tocar. Com as descobertas de 2010 esta teoria ficou abalada.
De qualquer forma esta teoria apresenta duas possibilidades:
  1. Com a chegada do Sapiens ao médio oriente, derrotam os Neandertais pela inteligência e astúcia, comendo consecutivamente ano após ano mais e melhor levando a estes últimos a desaparecer com o tempo.
  2. Uma guerra genocida entre espécies. Sabemos que a nossa espécie não é nada tolerante com a diferença e que é preciso aprendermos a conviver com a diferença. Pois naqueles tempos é bem provável que a intolerância com a diferença fosse ainda maior e está fácil de imaginar o que aconteceu.


O mais certo é que tenha acontecido um pouco de todas estas teorias. É verdade que há uma prova de miscigenação mas os pequenos valores indicam que não foi algo que aconteceu frequentemente. Outra conclusão evidente é que nós extinguimos todas as outras espécies o que não prediz nada de muito bom sobre a nossa espécie.

Surpreendidos? O melhor ainda está para vir.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A Revolução...! É esta a palavra que vos faz tanto medo? E não a haveis aprendido na história que todo o autêntico progresso humano está marcado por um traço sangrento, e que tanto no campo político como no cientifico foram sempre as minorias inconformistas que empunharam a bandeira da verdade, em torno da qual caíram, combatendo, ou triunfaram, arrastando atrás delas as maiorias inconscientes?Pietro Gori

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Entretanto, 2 anos depois...



Entretanto, dois anos depois o Governo está ferido de morte. Depois da direita ter feito tudo, do mais execrável, à natural luta política e da esquerda também se ter aliado para, um dia, o mais breve possível, colher frutos, chegamos ao momento da verdade e da pergunta mais pertinente neste momento. Serviu de algo a queda do governo de Sócrates? Serviu. Serviu para empobrecer muito mais rapidamente os portugueses, além de piorar em todos os domínios a economia e finanças do estado português. E agora? Onde estão os responsáveis que provocaram esta tragédia? Bom, creio que o povo já pagou bem caro o facto de querer culpar o Sócrates nem que fosse elegendo o Diabo. O problema é que pensavam que estavam elegendo alguém decente e que os ia salvar, além de agirem apenas com o propósito de castigar imaginando que com esse acto tinham, de facto, um grande poder. Bastava as pessoas estarem minimamente informadas para saberem o que vinha aí. Infelizmente o povo está aí para ser manipulado. Deitando uma vista de olhos pelos programas de TV mais vistos pelos portugueses, percebe-se tudo.

Mas e agora? Vai o povo eleger o PS quando há 2 anos atrás lhe tinha um ódio de morte? Vai o povo acreditar no sonso do Portas, que nada faz que manipular de uma forma asquerosa os mais débeis da sociedade? Quero acreditar que o PSD não terá qualquer hipótese nas próximas eleições, autárquicas e legislativas. Se isto obedecesse a alguma lógica nem o PSD nem CDS nem o PS teriam qualquer hipótese nos próximos 20 anos. Mas e se o povo votar na esquerda, o que vai acontecer?

Como sempre foi mais do que óbvio, Portugal dependerá sempre do exterior e portanto tudo depende da política da União Europeia. Assim sendo, a nossa hipótese de mudança, para melhor — e também a única — é tentar influenciar as forças europeias para os interesses do povo português e isso obviamente só a esquerda (incluindo o PS) podem e mais que tudo querem fazê-lo neste momento. O PSD e CDS, como ouvimos, quiseram  ir além da Troika custasse o que custasse. E tem custado bastante a muita gente.

Mas a questão é: E se a direita, nos países europeus que realmente contam, continuar no poder e se se mantêm intransigentes na continuação desta política neo-liberal, que pode fazer a esquerda portuguesa?
Pois eu acredito que nada e a tragédia pode vir a ser ainda pior. Portugal não tem qualquer peso para assustar os pesos pesados europeus e numa posição débil não se consegue absolutamente nada.

O problema dos portugueses é a própria existência de Portugal que apenas pode existir através de duas coisas muito simples: solidariedade dos europeus ou através da escravidão do seu povo. 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

É a piolheira, meninos, é a piolheira total, este desgraçado paíz



A primeira cousa que há de realçar-se é que neste tempo há ortographia. Não me refiro à hysteria que hoje perpassa por uma sociedade que parece não ter outro desiderato que não seja maldizer e desbaratar o nosso nobre idioma, que nos vem de Camões por Vieira e mansamente se deteve, mais recentemente, nesses dois soberbos escritores coevos que foram Camilo Castello Branco e Eça de Queiroz. Refiro-me outrossim à necessidade sentida por tantos de promptamente saltarem ao ataque de uma ortographia, como se fosse pertença de grupo ou de uma classe.

A representação do idioma altera-se ao longo dos annos com uma chímica nem sempre explicável, como se a choreographia das letras dansando umas com as outras, ora agglomerando-se ora apartando-se, promettese mais do que uma symples forma de nos fazermos entender perante os outros. Não pretendo entrar por sciências que não domino. Para tal temos specialistas armados de machinas e de instrumentos, entre os quais o thermometro que ha de medir a temperatura do debate. Não! O que pretendo é ennaltecer ou ennobrecer os tempos em que escrever é uma arte que não está propriamente ao alcanse de qualquer ouvido. De que vale estudar o latim e o grêgo se não necessário, muito infelizmente, saber qual é a diferença entre emigrar e immigrar ou immerjir e emergir.

Escrever não pode ser para todos, não senhor! Não pode ser para todos! Quereis que o povo escreva de ouvido! Pois oponho-me! Há de saber etymologia e há de saber o latim-latão dos seminários e da vetusta Coimbra! Pretendeis que morrer de phthisica com a maior phleugma do mundo seja o mesmo que morrer de tísica com fleuma! Abandonai tal esperança! O obscurantysmo foi derrotado pelo progresso, o labor ganhou alforria, mas o idioma não pode estar sujeito à regra democrática! Este acordo de 1911 é um pesadelo! Se daqui a 100 anos alguém o defender, podeis estar certos de que o mundo não vale a pena, de que a língua finou-se e nem uma badalada a sobrados se ouviu pelos verdes prados do Paíz.

Mas qual a razão para tais comedimentos? A idêa peregrina de colocar o povo a ler e escrever. A idêa vem do Costa Cabral, do Marquez de Tomar, que há 50 annos, por meados do século XIX, quiz dar letras ao povo. E como se as letras tivessem difficuldades para a piolheira geral, e além disso a piolheira não alcançasse a complexidade dos ph, dos th, dos y e doutros signais, esta canalha republicana quer dar cabo deles. Por isso me rio quando vejo os de agora, tão democráticos e tão revolucionários, a querer escrever contracto sem o c, como se o c não fosse indispensável à abertura do a. Ou pharmácia com f, como se o phi grêgo fosse o mesmo som que o f latino! Mas, meninos, é isto a piolheira moderna.

 É republicana, mas manteve a sua essência. Não conhecem os princípios jerais de toda a ortographia, desconhecendo que esta não pode ser apenas de um modo de falar, quer êste seja de um só indivíduo, quer de uma província ou dialecto, como bem escreveram Gonçalves Vianna e Vasconcellos Abreu em 1885. Por consecuéncia, a ortographia há de por fôrça ser complexa. Podeis, pois, prègar como quiserdes, mas deixai-nos na sancta paz de Deus quanto ao modo de escrever. Se quereis uma graphia popular, grunhi como os símyos, mas escusais de macular o portuguez com o linguajar do povo.


                                                                                                                                         in Expresso Junho de 2013



sábado, 18 de maio de 2013

Caça aos Lobos



Mais novidades, confirmadas por Lobo Xavier, após os desentendimentos na coligação se tornarem ainda mais evidentes. É preciso ter lata — e não ter escrúpulos nenhuns — para após terem, sem qualquer pejo, destruído a vida de milhões de portugueses, denegrido e vilipendiado, para além de qualquer senso, o ex- Primeiro Ministro, agora virem afirmar que a culpa da "Troika" se encontrar neste nosso pobre país, é culpa da "pressão exercida pelo PSD e pelo CDS-PP". A Alemanha, inclusive, não queria que Portugal enveredasse por esse caminho e Sócrates já tinha, como se sabe, o apoio dos seus parceiros europeus para o evitar mas a pressão incessante da Direita portuguesa levou ao inevitável. Um povo idiota ajudou — e de que maneira — também para o que se passou posteriormente. 


Está muito fácil de entender o que se está a passar: os"lobos" achavam que as galinhas não produziam os ovos suficientes para comerem à grande e à francesa e quiseram reformar o galinheiro. Enquanto que o peso das reformas caíam apenas sobre as galinhas estava tudo (mais ou menos) bem e era, portanto, inevitável e até necessário tudo o que fosse decidido pela Troika. Acontece que a Troika, aparentemente, trouxe igualmente caçadores, que, como está fácil de ver, caçam também os  lobos e é aqui que começa o sobressalto. E, aparentemente, o que ameaça a destruição da coligação dos lobos é o ataque às reformas, que vão das "bem boas" até às milionárias. E quem é que tem essas reformas? Certamente não é a maioria dos portugueses, mas, sim, as classes privilegiadas que não aceitam perder o seu estatuto acima do comum trabalhador. É decadente ver que poucos aparecem para defender o comum português, que é pobre ou remediado, mas para a sua classe privilegiada e para eles próprios vêm à praça pública indignados porque, agora sim, há uma linha que não se pode ultrapassar. Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix, Cavaco Silva — por que será que estão tanto contra o corte nas Reformas (de luxo)? Eu diria porque são reformados e não querem mesmo nada perder os seus privilégios. E que dizer daquele Movimento dos Reformados Indignados? Se aquilo não é gozar com a cara do "pobre zé" não faço ideia o que será. O Paulo Portas, o líder dos privilegiados ameaça romper com a coligação e é bem capaz disso. Afinal ele é líder do seu partido para exactamente isso — proteger os privilégios. Engraçado é ver figuras proeminentes mesmo de outros partidos, até de esquerda — reformados, claro está — a verem o maior demagogo da política portuguesa (Paulo Portas) como a sua bóia de salvação. Uma honrosa excepção para Silva Lopes que aceita cortes de 90% para as reformas de luxo para salvar a coesão nacional e em nome da justiça, sendo ele um reformado privilegiado. Mas segundo ele, a Constituição estará aí para prevenir a perda de rendimentos das elites.

Portugal no seu melhor! A justiça e a igualdade é uma miragem.

sexta-feira, 1 de março de 2013

2 de Março



É já amanhã que está convocada uma nova manifestação em que vale a pena participar porque finalmente há um  inimigo que congrega a opinião de todos — a troika composta pelo BCE, CE e FMI e este (des)governo PSD-CDS que estão a levar os portugueses de volta ao nível de vida pré Revolução dos Cravos. Outras manifestações em que não havia qualquer inimigo declarado, em que todos iam por todas e nenhuma razão, foram eventos tontos que não serviram para nada — do ponto de vista do povo, claro está — e mais pareceram procissões à volta do santuário.


 A questão é saber o que virá depois do governo cair. Não há soluções fáceis: Se se vota no PS (este PS que se conhece) voltamos ao mesmo, à austeridade, ainda que com algumas nuances sociais. Se se vota no PCP ou BE, o mundo ocidental capitalista, onde nos inserimos, reagirá — como reagiu em 1975 no período do PREC — e não terá qualquer pejo em tentar destruir-nos como exemplo para o mundo.

O que se sabe, no momento, é que com estas políticas não há solução e será cada vez pior. Mais riqueza será difícil, com este ou outro governo, mas é, sim, possível mais justiça e mais equidade social para todos. Não se pode deixar um povo pobre desamparado sem saúde, educação, enquanto que se lhes baixa os parcos rendimentos de que usufruem. É um genocídio à vista de todos.

Amanhã não faltes se não pactuas com este governo!

domingo, 6 de janeiro de 2013

Escola



«Aqueles que exercem o controlo sobre o aparelho educativo deveriam ser referidos como uma classe de "comissários". Os comissários são os intelectuais que trabalham na primeira linha para a reprodução, legitimação e manutenção da ordem social dominante, da qual colhem benefícios. [...] Para se manter um sistema de seguro social em bom estado de funcionamento para os ricos, é preciso ter uma classe empresarial altamente consciente. As outras pessoas têm que ser convencidas de que vivem numa sociedade sem classes. As escolas sempre estiveram ao serviço da manutenção deste mito.»  — Noam Chomsky

«A escola é a retrete cultural do opressor»— João César Monteiro

Nothing Changes on New Year's Days




Novo ano e a regressão e depressão acentua-se, mas nada inesperado acontece a quem se predispõe a pensar e a não seguir a manada. A notícia de hoje, a mais apelativa para o rebanho, é de que as sete maiores fortunas portuguesas aumentaram a sua fortuna em 13%. Mas qual é a surpresa se estamos todos a empobrecer e se o dinheiro não se evapora? Pois se os salários descem, os despedimentos são mais baratos, as indemnizações são cada vez mais irrisórias quem acaba, inevitavelmente e obviamente, por beneficiar? Pois, não há grande surpresa.

O mundo está cada vez mais perigoso e consequentemente o ser humano, que é um animal muito manhoso, especialmente quando vive em condições financeiras débeis em que o factor sobrevivência se sobrepõe ao civismo, educação e humanismo. A tolerância pode estar em questão, particularmente se este desespero for usado por grupos de extrema direita, sem escrúpulos e liderem este povo, tal como ainda bem recentemente, por exemplo, era completamente usado pela Igreja Católica para intimidar e forçar o individuo a ceder perante o colectivo (interesses da igreja) em quase todos os aspectos da vida. Este regresso à pobreza extrema, que se afigura, só trará mais intolerância, mais estupidez, mais ovelhas para os donos deste pobre país. Sem dinheiro, não há educação e sem educação não há saída da estupidez para ninguém. Mas também é verdade que a perseverança deste país e dos ricos deste país, reside na estupidez do rebanho, por isso, assim, não há um futuro decente para os portugueses.