quarta-feira, 30 de março de 2011

O Vale Tudo Pelo Poder



Pois é, o Governo está demissionário e o que é que nos espera agora? Nada bom, e se a direita tomar o poder, como todos esperam, ainda vai ser pior, disso não tenhamos nenhumas dúvidas. Mas como chegamos a esta situação, como é que o Governo caiu?

Bom, o povo já decidiu que a culpa de toda a nossa desgraça é deste Governo, mesmo que as nossas dificuldades tenham por base uma crise económica internacional, que afecta a maior parte dos Estados ocidentais, e se viram forçados a resgatar bancos privados com "buracos negros" com a desculpa, ou talvez não, de salvar os depósitos dos seus nacionais. Como as economias estão todas interligadas as dificuldades de um país acabam por afectar o outro e estamos na presença de um efeito dominó, que não sabemos ainda aonde vai terminar.

Sócrates confrontado com este terramoto económico e com os conservadores, no poder na grande parte dos Governos dos Estados europeus, não lhe restou nada mais que seguir as políticas de consolidação orçamental, de austeridade impostas pela Alemanha. A Direita toma o poder na UE e o que é que se verifica automaticamente? A subida de nacionalismos, egoísmos nacionalistas, que abandonaram praticamente a Grécia à sua sorte e passou-se a funcionar quase no pensamento do cada um por si. Perante este cenário, que os federalistas não desejavam, desolador, em que a UE actualmente se encontra, não restou mesmo outro caminho a Sócrates do que seguir os ideais da Direita.

Assim, Sócrates, acabou por ficar muito mal na fotografia e é obrigado a apresentar medidas impopulares ao seu povo, medidas que estão de acordo com o que o PSD - CDS pensam serem as melhores e que querem implementar em Portugal, até com mais dureza, mas como não podem mostrar agrado ao povo pelas medidas do adversário, simplesmente criticam para obter alguma popularidade junto dos mais incautos.A isto chama-se "queimar o Governo em lume brando", ou seja, deixar o Governo apresentar tudo o que é impopular e quando estiverem realmente em baixo surge o PSD para tomar o poder com medidas ainda mais fortes e seguirem a política iniciada.

Ora o PS não é estúpido, e com uma jogada simples e inteligente, forçou o PSD a levar o Governo a apresentar a demissão ao Presidente. Todos sabíamos que o Governo estava preso por um fio e que eram necessários consensos alargados para a implementação de novas medidas para a redução da despesa. O Governo quando apresentou o novo PEC IV, sem dar explicações a ninguém, é mais que óbvio que esperava o desfecho que teve. O PSD, com a ânsia de poder, não teve qualquer consideração pela catástrofe que poderia provocar ao País, e o PS em última instância, pelo seu jogo arriscado, também resolveu colocar o país no cadafalso. O jogo foi mesmo esse: ou fazemos assim e vocês calam-se ou o país vai abaixo - o PSD sem qualquer consideração, aceitou que o país fosse abaixo. É este o nível da nossa política em Portugal.

Consequências: Os ratings de todas as agências de cotação de dívida baixaram os níveis de Portugal; dos bancos portugueses; os juros da dívida portuguesa subiram até aos 9%; o FMI bate-nos à porta. A Direita tem algum problema que o FMI entre em Portugal? Não, o FMI certifica-se que o País pague as dívidas sem olhar ao sofrimento do povo. Privatiza tudo o que der lucro ao estado, entrega essas fontes de riqueza de todos a privados que a médio prazo tornam o país mais pobre - as políticas neoliberais da direita. Quem sofre? O Povo.

Propostas do PSD: As mesmas que o PS estava a fazer mas ainda mais severas. Um dia diz que nunca subiria impostos, no outro sobe o IVA, no outro dia vê que é muito impopular e já diz que não era isso que queria dizer. Fragilizar, ainda mais, com a privatização a Saúde e a Educação. Cortes mais abruptos nos apoios sociais etc.

A Direita só é solução para os grandes grupos económicos não para o povo.

As sondagens continuam a evidenciar um crescimento da Direita e não consigo perceber como é que as pessoas são tão estúpidas. Eleições atrás de eleições e não percebem que andar a escolher entre A e B, a castigar o outro partido por algo que corre mal, não é solução. Não contribuo mais para esse circo! E tu?

domingo, 13 de março de 2011

O Povo à Rasca



E cá estamos, sensivelmente um dia após a grande manifestação que juntou muitos milhares de portugueses de todas as idades, em várias cidades - em especial no Porto e Lisboa - de ideologias completamente diferentes e que se apresentaram por razões também muito dispares.
É verdade que o país atravessa dificuldades extremas para a maioria da população, mas há casos e casos. Há casos de idosos que não têm dinheiro para medicamentos, de jovens a trabalhar gratuitamente e que só subsistem à custa dos pais, pessoas com 40 anos que não encontram qualquer trabalho digno na sua área de formação, outras que apesar de terem qualificações superiores auferem salários pouco acima de 500 €, e ao mesmo tempo há pessoas a manifestarem-se porque o governo viu-se forçado a fazer alguns cortes em salários que estão acima de 1500€, que já podem ser considerados, no mínimo, bem dignos. 

Estes últimos são os principais detractores do actual governo, juntamente com outros menos culpados, devido à sua inocência, que crêem que com um governo do PSD, ou PSD-CDS, a sua vida vai melhorar, e, obviamente, a corja que pulula em redor destes partidos de poder e que anseia pelo posto que o partido lhe pode garantir.
Evidentemente que para os mais prejudicados subirem no seu nível de vida, vai haver quem terá que abdicar dos seus privilégios, que repartir os seus rendimentos com quem ganha menos, dar oportunidades aos que não têm e por conseguinte abandonar o alto do seu púlpito. Alguém acredita que se queremos mudar alguma coisa podemos agradar a todos? Evidentemente que não!

Este Governo não tem solução para os nossos problemas, é já evidente, mas quem pensar que o PSD ou CDS  traz alguma solução para os precários e para quem precisa está completamente desvairado. A solução que a direita tem para o país é a precariedade, os salários baixos, o corte nos subsídios dos mais desfavorecidos, é alimentar as empresas de todas as maneiras possíveis à custa do povo. Sendo este país um país de precários, já com os salários mais baixos da Europa ocidental, com mais impostos sobre a população que se traduz em preços incomportáveis, como para a gasolina, como é que alguém pode aceitar isto?! Não aceito essa solução!

Este movimento teve o condão de mostrar que o país se pode mobilizar, que pode ser desperto e que pode lutar pelos seus direitos. Já assustou algumas pessoas, mas enquanto não definirmos objectivos concretos, lutas singulares, metas particulares ou identificarmos positivamente os culpados da nossa situação, não acontece nada.
Foi dado o primeiro passo, mas é preciso passar à etapa seguinte porque hoje segue tudo como ontem. A luta não pode parar e os jovens não podem parar só porque conseguiram melhores condições para si, pois isto é uma luta de todos os precários portugueses e os precários evidentemente não são só os jovens. 

quarta-feira, 9 de março de 2011

A Nossa Luta



A vitória dos 'Homens da Luta' é uma prova de que o povo está mais do que farto do circo que nos envolve e nos adormece todos os dias e está no limite da sua paciência e pronto para algo que está aí à beira de rebentar. No próximo Sábado vai ser um dia fulcral para percebermos se o povo, em especial os jovens, está disposto a lutar pelos seus direitos e demonstrar que não estamos disponíveis para aceitar qualquer preço para endireitar o país. Um país existe para servir o povo e não deve persistir à custa da escravidão de ninguém e muito menos das camadas inferiores da sociedade e por isso é importantíssimo que nos manifestemos.

Triste é também ter que ser um comediante a dizer às pessoas coisas que são tão óbvias, mas que nenhum político, em especial os conservadores, nos dizem. Não nos podemos deixar adormecer por esta classe política corrupta, e outros que pertencem aos sistema e às classes privilegiadas, que apenas defende os seus próprios interesses contra os interesses gerais da população portuguesa. Somos de facto a geração mais culta, mais informada, com melhores condições, mais conhecimentos e não nos podemos deixar acobardar sob pena de sermos considerados a geração mais estúpida de todas. Não podemos faltar no Sábado! Vamos para a rua! O povo não pode estar sereno!


Não deixem de ver esta entrevista ao Nuno Duarte, que obteve uma importante vitória do povo português, onde nos diz muitas importantes verdades:
Entrevista de Nuno Duarte à Sic sobre a sua vitória e o seu simbolismo

terça-feira, 1 de março de 2011

O Acordo Ortográfico


O Acordo Ortográfico tem sido criticado pela maioria dos portugueses porque estes sentem que vão perder o poder que detinham sobre a língua que até agora pensavam como só sua. Convém explicar às pessoas que para além da língua não pertencer a nenhum povo em especial, que esta escrita convencionada com que todos nós escrevemos, já foi alterada bastantes vezes e não reflecte em todos os casos a maneira como todos nós nos expressamos oralmente. Nunca foi uniforme, e mesmo entre portugueses, a escrita não reflecte inteiramente a maneira como se pronuncia as palavras, pois há diferenças de pronuncias claras no território português, sendo a mais óbvia a do norte e a do sul, no continente.

A língua portuguesa teve a sua origem no Galego, que veio do norte, e que com outros falares diferentes, do sul, foi incorporando na base galega novos sons, novas palavras e chegamos ao que temos hoje — uma língua que se afastou da sua origem e avançou e denominou-se português. As palavras também já se escreveram de várias maneiras ao longo dos tempos e não é a nossa maneira actual que é a mais correcta, é simplesmente a maneira convencionada que de momento faz mais sentido. Foi a que nos ensinaram e a que aprendemos e nada mais.

Mas a questão essencial neste assunto é que este acordo, é um acordo político, com vantagens económicas para todos e quem ainda não o percebeu é porque infelizmente não consegue ver para além do seu umbigo nem tem dois dedos de testa. Vamos todos continuar a falar igual, da mesma maneira de sempre, eu com a minha pronuncia nortenha, outros com a pronuncia sulista — e socialmente correcta — e todos os outros do mundo da Lusofonia vão manter a sua pronuncia própria como até aqui. O que muda é a escrita, e tão só isso, como já mudou muitas vezes e daí, como estamos agora a ver, não veio nenhum mal ao mundo.

O triste nestas manifestações contra o Acordo Ortográfico, uma vez mais e infelizmente, é o patriotismo bacoco na maior parte dos casos, que os impede de dizer algo com substância que não aquilo que alguém ouviu e repetiu sem pensar muito sobre o caso.

"O Brasil quer colonizar Portugal e nós não precisamos deste país para nada, eles é que precisam de nós. Eu não vou falar brasileiro! A língua é nossa!"

Pode ser um transmontano a dizer isto, assim como pode ser um açoriano, que já escreve um português que pouco reflecte a sua oralidade, mas mesmo assim é um acérrimo defensor do português orquestrado em Lisboa e jamais aceitaria um desvio ao que dizem ser português de Portugal.

Mas enfim, compreende-se quando este país viveu quase um século fechado sobre si, a crer que Portugal era ainda uma enorme potência e que tudo o que era de Portugal era bom.

A Língua Portuguesa é um extraordinário motivo de orgulho para muita gente, de prestígio para o país, mas é essencialmente de relevância económica e é isso que está em questão acima de tudo. Mas para beneficiarmos de tudo isso é obviamente necessário o suporte do Brasil que representa, sozinho, mais falantes de português do que todos os outros países juntos e pensarmos que poderíamos forçar o Brasil a adoptar a nossa ortografia sem contrapartidas seria no mínimo inocente. Claro que o povo pode continuar a vociferar, meter a cabeça na areia às evidencias, dizer que nunca escreverá de maneira diferente, mas quem nos dirige tem outras responsabilidades e, felizmente neste caso, não estão a dormir. A máxima do "orgulhosamente sós" só colhe nas mentes de pobres idiotas e neste caso, em particular, a visão dos políticos é bem clarividente em relação ao futuro e às perspectivas globais. Uma língua de 10 milhões vale pouco, e se nos isolássemos até podíamos correr o risco de os "PALOPs" se alinharem pela potência emergente e então teríamos que andar a correr atrás do prejuízo de forma humilhante.

Digamos que são reacções normais do rebanho, crescem a acreditar que o que lhes ensinam é a verdade suprema e depois quando se apercebem que foram "enganados" fazem ruído.
"A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.
A Deus, que me-a fizestes mais amar,
mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte."
Aqui tens companheiro aſsi nos feitos
Como no galardão injusto & duro,
Em ti & nelle veremos altos peitos,
A baxo eſtado vir humilde, & eſcuro:
Morrer nos hoſpitais em pobres leitos,
Os que ao Rey, & aa ley ſeruem de muro,
Iſto fazem os Reys, cuja vontade
Manda mais que a juſtiça & que a verdade.
E já se escreveu:philosophia, theatro, chimica (química), rheumatismo, martyr, sepulchro, thesouro, lyrio, posthumo, cysne, cathecismo e também era "o fim do mundo" quando se simplificou a escrita e aqui estamos como se nunca tivéssemos escrito assim.

Dos Velhos do Restelo não reza a história e é a união que faz a força. Já nos isolamos de Espanha e agora isolar-nos também do Brasil, embora tivesse menos consequências para o povo português, não deixaria de ser um erro gravíssimo.