segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

As Libertárias



“Libertárias” é um filme sobre a Guerra Civil Espanhola de 1996 e realizado por Vicente Aranda. Esta película retrata, em particular, um grupo de mulheres, da Espanha republicana e anarquista, que buscava direitos iguais para o sexo feminino e para isso estavam dispostas a morrer ao lado dos homens, na luta contra as tropas reaccionárias de Franco da sociedade tradicionalista. Desde o recrutamento de prostitutas, que viviam exploradas pela burguesia e membros do clero, até à adopção de uma monja que encontrou a sua libertação no seio deste grupo libertário e neste ambiente revolucionário. 
A Guerra Civil Espanhola é de facto um período muito interessante e que todos deviam ler e estudar profundamente sobre o assunto, mas sendo esta uma guerra tão importante para o povo, praticamente não se fala sobre o assunto e percebe-se porquê.
A Espanha em 1930 vivia ainda dominada pela Igreja, pelo poder Real e por uns quantos privilegiados - hidalgos - que detinham a maior parte das terras enquanto que o povo vivia em grandes dificuldades e miséria. A República e a sua Constituição para além de terminar com o poder real, colocou os outros dois poderes em xeque e naturalmente era apenas uma questão de tempo até os poderes de sempre tentarem reaver o seu poder e a reacção não demorou. A Constituição providenciou enormes direitos sociais ao povo, como por exemplo o casamento civil, sufrágio feminino, divórcio, direito ao aborto, e até membros de sindicatos anarquistas foram chamados a fazer parte do Governo.
A Republica democrática abrigava várias forças políticas diferentes:comunistas, republicanos, socialistas e naturalmente havia divergências entre estes mas estes foram mais tarde obrigados a coligar-se - A Frente Popular - face aos partidos reaccionários que surgiam, como os partidos católicos ultra conservadores. Os anarquistas, que tradicionalmente não votavam, mostraram de alguma forma simpatia pela Frente Popular e permitiram a vitória fundamental dos partidos revolucionários nas Eleições Gerais de Espanha de 1936. 
Em Barcelona o povo estava empenhado em lutar contra os seus opressores, organizado em colectividades, e provou que podia subsistir em melhores condições sem o estado: a produção aumentou, passaram a viver com melhores condições de vida, todos se tratavam de igual para igual e terminou o espírito subserviente - tratavam-se por tu e companheiro - e até, com mais rendimentos, lograram construir hospitais e escolas, com uma educação livre e libertária como nunca tinha acontecido até então. A educação tinha um papel chave na nova sociedade que queriam implantar e até os sindicatos eram casas de cultura aonde se lia, recitava, escrevia, debatia etc.
Neste período é de realçar o enorme sucesso que as imensas publicações anarquistas tinham na sociedade, o que demonstra o enorme interesse que a população tinha na desmitificação dos velhos dogmas da antiga sociedade dominada pelos velhos poderes: o papel da mulher; Deus; o Estado etc.
Espanha nos anos 30, estava na vanguarda dos direitos sociais e da libertação do povo, e os velhos poderes não o podiam permitir, pelo menos, sem contra-atacar . Hitler, Musoulini, apressaram-se a apoiar os velhos e ainda poderosos poderes de vários séculos de Espanha, e Portugal também fez tudo o que pôde para que esses ideais revolucionários nunca cá chegassem. Aqui apressaram-se a denegrir a imagem dos republicanos e enviaram perto de 20 mil homens para lutar contra a “ameaça do comunismo”.
O povo esclarecido esteve ao lado dos Republicanos, e os servos, fieis do poder de sempre, lutaram pela sua escravidão e a restauração do poder dos seus amos. Uma guerra pela qual, de facto, valeria a pena o povo ter lutado até à morte, pois era uma luta pela libertação, pelo fim dos Deuses e dos senhores, e na verdade pessoas de diversos países alistaram-se para lutar contra os fascistas.
Acreditarmos que a igreja ou os burgueses irão entregar o poder sem guerra, não passa de uma ilusão, e estes propalam esta ideia apenas porque detêm o poder, pois sem a força não há maneira de os destituirmos - toda a capacidade de influenciar está nas mãos da igreja, burgueses e estado. Assim que os nacionalistas recuperaram o poder, perseguiram e massacraram todos os que tivessem um ideal revolucionário e é assim, também, que persistem durante todos este tempo infindável - eliminam todos os que podem elucidar e que são persuasivos, quando têm poder para tal, e quando não têm capacidade para eliminar as ameaças, estas são apelidadas de “actos terroristas”. Espanha, com Franco, regrediu outra vez à idade das trevas e manteve-se, juntamente com o Portugal, de Salazar, completamente anacrónica numa Europa democrática, para grande infelicidade dos povos ibéricos que ainda hoje pagam um preço terrível pelo seu atraso. 
Por fim, aos lutadores republicanos, aos idealistas anárquicos, mostrar todo o nosso apreço é pouco, porque estes de facto lutaram pela liberdade, pela sua e a de todos e resta-nos esperar e fazer votos para que da próxima vez não falhemos o sonho. A luta continua!

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