Como nos comportávamos e pensávamos? Nós nem nos apercebemos
nem temos consciência disso, mas a maior parte do nosso tempo neste planeta
fomos recolectores e caçadores e vivemos a maior parte do tempo em grandes
comunidades, em liberdade e muito distantes de termos os códigos morais que nos
regem actualmente. Assim, apesar de tudo o que aprendemos culturalmente e das
regras morais e legais que a sociedade nos impõe, subconscientemente, ainda
estamos na idade da pedra (psicologia evolutiva).
Hábitos Alimentares – Praga da Obesidade
No passado, se encontrássemos algo doce por onde quer que
andássemos em busca de alimento, racionalmente comeríamos tudo de uma vez
porque a comida era escassa e porque não poderíamos dar-nos ao luxo de deixar
para outro dia pois correríamos o risco muito forte de já lá não encontrarmos
nada. Hoje o nosso ADN diz-nos exactamente a mesma coisa que nesse passado
remoto, ou seja, que devemos comer o máximo que podemos para sobreviver. Nós
evoluímos muito mais rápido que o nosso ADN, que nos considera como se
estivéssemos na Savana, e por isso temos esse comportamento natural.
Vida Sexual e Relações Familiares
Vida Sexual e Relações Familiares
As pessoas viviam em comunidades e não tinham relações
monogâmicas: mulheres e homens tinham relações sexuais e encontros “românticos”
com vários homens e várias mulheres — relações heterossexuais e homossexuais. Não
existia, claro está, qualquer conceito de casamento para toda a vida e família
nuclear.
Todavia isto não quer dizer que as relações fossem
consideradas “noitadas” ou relações promiscuas, com uns e com outros, pois dentro da tribo todos se
conheciam muito bem ao ponto de se poder dizer que se conheciam melhor do que muitos casais dos
dias de hoje, até porque passavam a maior parte do tempo juntos cuidando-se uns dos outros, algo que a
maior parte dos casais de hoje não se podem dar ao luxo.
As crianças não eram criadas pelo casal, mas pela tribo, até
porque nunca se sabia quem seria o pai. As mulheres, no seu melhor entendimento, queriam acasalar com vários
homens da tribo para que os seus filhos colhessem as melhores características
de cada parceiro.
Se esta teoria se verifica verdadeira está fácil de entender
os imensos problemas amorosos das nossas culturas — fomos biologicamente
preparados para viver de uma maneira que entra em conflito com as normas morais
e até legais das nossas sociedades modernas.
Mas como a nossa linguagem se volveu ficcional cada tribo
construiu a sua história particular e torna-se difícil, assim, podermos afirmar com total segurança qual é o nosso comportamento natural porque algo que é tabu
para uma tribo pode ser normal para outra.
A grande maioria dos humanos vivia em pequenos bandos sem a
presença de qualquer animal com a excepção de cães. Estes foram os primeiros
animais domesticados pelos humanos — uma versão mais dócil do lobo que foi
apurado para protecção da nossa espécie, seja como sistema de alarme contra
perigos, seja para ajuda na caça, ou mesmo como protecção.
Uma característica que facilmente distingue um lobo de um cão é o facto de uns
ladrarem e outros praticamente não o fazerem. O homem dedicou-se a apurar esta
característica para sua conveniência. Com o tempo a relação do homem com o cão
tornou-se tão importante que ainda hoje dizemos que é o nosso melhor amigo.
Tanto a solidão como a existência de uma vida privada eram
situações raras naqueles tempos; havia algumas lutas entre tribos mas a
cooperação é algo que se pensa ter sido mais comum:
- Trocas comerciais
- Intercâmbio de elementos das tribos
- Celebrações religiosas comuns
- Alianças contra outras tribos
Viviam em um território particular mas não no mesmo local pois
consoante a estação do ano teriam que buscar alimento em locais diferentes. Em
casos excepcionais alguns bandos fixar-se-iam em determinados locais por meses e
às vezes até poderia chegar a um ano. Nas zonas costeiras, junto ao mar, rios,
lagos e oceanos, poder-se-ia encontrar acampamentos permanentes bem antes da
Revolução Agrícola.
Estas vilas piscatórias surgiram há 45 mil anos atrás nas
ilhas da Indonésia e foram a base para a invasão da Austrália pela nossa
espécie.
Tínhamos uma dieta variadíssima e comíamos coisas como
insectos, raízes, tartarugas, sapos, cervos, mamutes etc. Neste período a
economia recolectora era a mais importante para a maioria dos bandos e a sobrevivência dependia da nossa forma física e mental que tinha que ser
apuradíssima. Individualmente estes humanos sabiam muito mais coisas do que um
indivíduo nos dias de hoje e há até evidências que o tamanho dos nossos
cérebros tem vindo a diminuir desde a Revolução Agrícola.
Estes recolectores, podemos afirmar, em muitos domínios
tinham melhor vida do que nós nos nossos tempos, senão vejamos:
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Países Desenvolvidos
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Em Desenvolvimento
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Recolectores
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Horário de Trabalho
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40-45 hrs/semana
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50-80 hrs/semana
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35-45 hrs/semana
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Trabalho em Casa
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Sim
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Sim
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Não
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Trabalhador Comum Actual
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Recolector
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Sai de casa às 7 da manhã
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Deixa o acampamento às 8 da manhã
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Às 8 da manhã chega ao trabalho
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Procura comida com os amigos
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Trabalha na mesma máquina durante 10
hrs
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Às 3 da tarde regressa ao acampamento
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Leva uma hora a regressar a casa
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Come e murmura com os amigos
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Faz o jantar, lava os pratos, cuida da
casa
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Faz o que quer
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Concluímos, pois, que estes recolectores tinham uma vida muito mais
interessante e muito melhor alimentação do que os Sapiens pós Revolução Agrícola.
Por que razão tinham os recolectores melhor dieta do que os
camponeses?
Porque os recolectores tinham acesso a uma variedade enorme
de comida, enquanto, os camponeses passaram a depender apenas de uma colheita
em concreto, ou por vezes de uma outra, o que não é de todo bom para a nossa
saúde. Além do mais a dependência de uma determinada colheita coloca em risco
de fome toda a tribo se algo de terrível acontece à colheita. A esperança
média de vida era praticamente igual e situava-se entre os 30 e 40 anos, mas
devia-se à enorme taxa de mortalidade infantil, no entanto, nas sociedades
recolectoras, se se conseguisse atingir a idade de 20 anos era muito provável
e bastante frequente alcançar-se os 60, 70 e até 80 anos.
Com a Revolução Agrícola muitos animais passaram a viver com os humanos em vilas e cidades em condições de higiene praticamente inexistentes e
surgiram doenças infecciosas, derivadas dos animais. que dizimaram populações
inteiras. As sociedades recolectoras continuavam saudáveis, mais livres e por
conseguinte mais felizes.
Vida espiritual
Antes da Revolução Agrícola os Sapiens tinham crenças
animistas, entidades com quem podiam comunicar directamente, como as rochas,
montanhas, rios, árvores, coisas materiais como estas atrás referidas, assim
como imateriais tais como fadas e demónios. Acreditavam que tudo possuía uma
alma, um espírito. Os humanos podiam fazer todo tipo de tratados com estas
entidades físicas enquanto os xamãs tinham o poder interceder sobre os
espíritos. Não havia hierarquias, nem deuses poderosos, portanto todos tinham o
mesmo estatuto. Não se pode falar numa religião específica mas apenas num nome
que cobre uma vastidão de crenças — Animismo.
Com a Revolução Agrícola começam a aparecer os “grandes
deuses” e passam a ser a forma de religião mais comum entre os sapiens. Sem
embargo as diferenças entre estas religiões dos “grandes deuses” não seriam
menores do que as diferenças entre as crenças animistas.
Política e Actividade
Guerreira
Não dispomos ainda de
muitas evidências sobre como se organizavam politicamente mas foi encontrado em
Sungir, Rússia, a tumba de 3 indivíduos — 1 maior e 2 menores — que ostentavam
uma riqueza acima da média.
Existem 3 teorias
para esta descoberta:
- Uma vez que as crianças eram demasiado pequenas para terem provado algo de especial, deviam o seu estatuto aos seus pais
- Tinham sido identificadas como a reencarnação de um velho espírito
- Foram sacrificadas num ritual.
Isto prova que há 30
mil anos a nossa espécie já podia inventar códigos político-sociais que iam
para além dos ditames do nosso ADN e dos padrões comportamentais de outros
animais. Evidencia igualmente desigualdade social e hierarquias pelo menos em
alguns bandos.
Quanto à guerra há várias teorias: uns afirmam que antes da
Revolução Agrícola não havia muito por que lutar. Outros afirmam que sempre foi
muito violento devido à nossa intolerância intrínseca com a diferença. A
verdade é que não há evidências que provem violência em grande escala no
período pré-Revolução Agrícola, mas uma vez que somos capazes de construir
realidades como bem entendemos, é bem possível que algumas tribos tenham
arquitectado as suas sociedades em torno da violência e outras em torno de
formas de vida mais pacíficas.
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