Quem somos e como chegamos aqui?
Para entendermos
o mundo, para sabermos quem somos, como chegamos onde chegamos, o porquê das
injustiças, das classes sociais, das religiões, nações e estados e tantas outras
ficções, temos que estudar história, a origem da humanidade e de toda a nossa
evolução. É isto que vos contar aqui nos próximos tempos, uma história que vos
surpreenderá e vos custará a crer, mas que ficará para vossa reflexão e quem
sabe para vossa libertação. Será bastante simplificada e até poderá ser considerada extremamente rudimentar, mas servirá o nosso propósito. No entanto, se assim desejardes, podeis sempre
tomar o comprimido azul e acordar na vossa cama a acreditar naquilo que
quiserdes acreditar. Bom, era uma vez…
Há 13 mil milhões de anos atrás deu-se o Big Bang — matéria, energia, tempo e
espaço — ao estudo destas questões chamamos Física.
Trezentos mil anos depois — matéria e energia
combinam e formam Átomos que por sua
vez combinam de forma mais complexa e dão origem ao que chamamos moléculas - a este estudo chamamos Química.
Há 4 mil milhões de anos atrás estas
complexas moléculas desenvolvem-se ainda mais e formam criaturas com vida - ao
estudo destas criaturas chamamos Biologia.
Há 70 mil anos atrás o Homo Sapiens junta-se
e forma estruturas elaboradas a que chamamos culturas - o estudo destas
culturas chamamos História.
Há 3 grandes revoluções na história da Humanidade
1. Revolução cognitiva (há 70 mil anos atrás)
— A transformação de um animal banal, no animal mais importante ao cimo do
planeta. O Homo Sapiens, uma espécie de macaco africano, evolui ao ponto de ter
habilidades cognitivas que o tornam no animal mais poderoso de todo o planeta.
2. Revolução
Agrícola (há 12 mil anos atrás) — Domesticação de animais e
plantas, primeiros assentamentos, aldeias, cidades, impérios.
3. Revolução Cientifica
(há 500 anos atrás) — O homem vai descobrindo o mundo em que vive e começa a
aprender as leis da vida. Até aqui a evolução era feita através da selecção natural mas agora começa a ser possível alterar essa realidade de sempre.
I
O Início
A Família Humana
Os
humanos surgem há 2500 milhões de anos em África Oriental mas eram apenas mais
um animal, como os outros, sem qualquer importância. O Género Humano, ou Homo,
subdivide-se em várias espécies, tais como o Homo Erectus, Homo Neanderthalensis, Homo floresiensis ou Homo
Denisova. Para percebermos
melhor o que queremos explicar, o Género Pantera subdivide-se pelas espécies
Leão, Tigre, Leopardo, etc (em linguagem comum). A ideia que temos de que estas
espécies humanas foram sempre dando origem a outras novas espécies mais
evoluídas não é de todo verdade. A verdade é que a nossa espécie (sapiens)
chegou a viver, no mesmo período de tempo, com outras espécies humanas.
Durante muitos anos
fizemos crer, e a maior parte de nós acreditou, que eramos uma espécie distinta,
vinda do nada, mas a ciência tem vindo a demonstrar que não é assim. No passado
— há 6 milhões de anos atrás — tivemos um ancestral que teve duas filhas: uma
evoluiu para ser ancestral de todos os chimpanzés e a outra evolui para se
tornar ancestral de todos os humanos. Viemos todos da família dos “grandes
primatas” (big apes) e os nossos relativos mais próximos são os orangotangos,
os gorilas e, os mais próximos de todos, os chimpanzés.
Outras espécies humanas:
Outras espécies humanas:
Homo neanderthalensis
Homo soloensis
Homo floresiensis
Homo erectus
Homo denisova
Homo sapiens
Há 100 mil anos atrás viviam, pelo menos, seis espécies humanas
ao mesmo tempo. É provável que tenhamos matado todas as outras espécies tendo
em conta a nossa intolerância inata perante a diferença. Mas também pode não
ter sido assim…
Todas as espécies humanas tinham uma característica em comum: cérebros bem maiores do que qualquer outro animal do seu peso. Estes cérebros enormes eram também um problema porque é preciso alimentá-los, carregá-los e protegê-los. É estimado que 25% da sua alimentação era exclusivamente destinada ao seu cérebro e portanto tinham que passar muito mais tempo em busca de comida do que os outros Hominidae (great apes). Com o tempo os cérebros tornam-se ainda maiores à medida que a capacidade muscular diminui.
Todas as espécies humanas tinham uma característica em comum: cérebros bem maiores do que qualquer outro animal do seu peso. Estes cérebros enormes eram também um problema porque é preciso alimentá-los, carregá-los e protegê-los. É estimado que 25% da sua alimentação era exclusivamente destinada ao seu cérebro e portanto tinham que passar muito mais tempo em busca de comida do que os outros Hominidae (great apes). Com o tempo os cérebros tornam-se ainda maiores à medida que a capacidade muscular diminui.
Seria uma boa estratégia para a sua sobrevivência? Um
chimpanzé, por exemplo, é cinco vezes mais forte do que nós. Neste momento não
temos qualquer dúvida que foi uma boa estratégia, mas há 2 milhões de anos atrás não parecia nada
uma boa ideia.
Por que razão os nossos cérebros se tornaram maiores? Actualmente
não há certezas absolutas, mas há uma hipótese bem plausível que mais adiante
iremos identificar e explicar.
Outra característica destes humanos é que caminhava em duas
pernas e isso proporcionava-lhe um visionamento mais amplo da savana para buscar mais facilmente alimento, assim como também os tornava mais conscientes das ameaças em
seu redor. Igualmente libertava-lhes as mãos para outros propósitos tais como
produzir objectos de caça (lanças, pedras afiadas etc) que lhes viriam a ser muito úteis.
Mas tudo na evolução tem um custo. A realidade é que nós
fomos feitos para andar em 4 membros e a maior parte do nosso tempo evolutivo foi
feito assim, portanto, quando decidimos começar a andar em 2 membros, o nosso esqueleto, a espinha dorsal e os músculos, sofreram grandes pressões e tivemos enormes
problemas físicos. Com o tempo o nosso corpo foi-se adaptando, mas, como bem
sabemos, ainda sofremos bastante com estes problemas que nunca foram completamente debelados.
As mulheres pagaram um preço mais elevado: caminhar em duas
pernas faz necessariamente com que as duas pernas se aproximassem mais uma da
outra. Com isto, o canal vaginal estreitou-se ao mesmo tempo que as crianças
começaram a ter cabeças maiores, com cérebros maiores. Como está fácil de ver isto
foi um enorme problema que provocou inúmeras mortes tanto às mães como aos
filhos.
Qual foi a solução? A solução deu-a a natureza, com o tempo,
que fez com que o nascimento se desse mais prematuramente quando as crianças ainda
não estavam devidamente preparadas para o mundo exterior, mas, permitiam, com
bastantes cuidados da tribo, maior probabilidade de sobrevivência tanto da mãe
como dos filhos.
Em comparação com outros animais, em que vemos que pouco
depois do nascimento já andam e mantêm várias actividades com os progenitores,
os humanos demoram meses ou até anos para adquirir faculdades básicas.
Pelo facto de quando nascemos estarmos ainda em formação, especialmente mentalmente, podemos tornar-nos em qualquer coisa que nos incutam pois somos extremamente
moldáveis e portanto podem educar-nos para sermos o que quiserem — cristãos, muçulmanos, comunistas, capitalistas, sportinguistas,
judeus, benfiquistas, ingleses, franceses, amantes da paz ou da guerra, homofóbicos, xenófobos, racistas, nacionalistas, o que vos passar pela imaginação.
Nesta altura a nossa espécie estava ainda longe de ser o
predador mais temível do mundo animal, como o é nos dias de hoje, mas, de
facto, andava pelo meio da cadeia alimentar. Comíamos vegetais e os restos de
carne que nos deixavam os outros predadores mais temíveis.
Parece, segundo
afirmam reputados historiadores, que a nossa “especialidade” era comer o tutano,
deixados pelos outros carnívoros, a partir do momento em que tivemos utensílios
que nos permitiam quebrar os ossos que mais nenhum outro animal conseguia.
Foi há apenas 400 mil anos atrás que começamos a caçar
animais de grande porte e há 100 mil anos atrás que nos tornamos o “rei da
selva” — o animal no topo da cadeia alimentar. De ponto de vista evolutivo foi
um salto repentino para uma posição de tamanho poder e isso veio com um preço
terrível para a natureza. Tem sido óbvio que o Homo Sapiens não está preparado
para esta posição e as catástrofes que temos dado origem não pararam de
suceder.
Há 300 mil anos
atrás aconteceu algo extraordinário que nos mudou a vida para sempre:
Aprendemos a controlar o fogo e este proporcionou-nos:
- Luz na escuridão.
- Calor.
- Uma poderosa arma contra animais perigosos.
- Mudar o meio ambiente consoante as nossas necessidade.
- Ao queimar florestas providenciava alimentos em grandes quantidades.
- Cozinhar os alimentos.
·
Abriu novas oportunidades para os humanos
comerem, tais como batatas ou arroz.
·
Ao cozinhar protegiam-se dos micróbios que os
alimentos continham.
·
A digestão faz-se muito mais rapidamente.
Segundo alguns estudiosos esta revolução foi o que
proporcionou aos humanos o desenvolvimento do cérebro. Uma vez que não precisávamos
tanto do aparelho digestivo o nosso corpo evolucionou no sentido de nos providenciar um melhor cérebro.
Ao contrário de todos os outros animais em que o seu poder
depende da sua força física, o humano, com o poder do fogo, passa a deter uma
arma completamente desproporcional ao seu poder físico.
A nossa espécie, Homo Sapiens, surge, mais ou menos, entre
300 e 200 mil anos atrás no leste de África e há 70 mil anos expandiu-se para o
médio-oriente e o continente euro-asiático onde se depararam com outras espécies
humanas. O que é que acontece?
Há duas teorias, sendo que uma delas é bastante polémica.
Há duas teorias, sendo que uma delas é bastante polémica.
Teoria de Miscigenação (interbreeding theory)
A teoria da miscigenação diz que os Sapiens, apesar dos
conflitos e guerras que tiveram com as outras espécies, cruzaram-se e hoje em
dia há povos que são uma mistura de espécies diferentes. Esta teoria foi
durante muito tempo desconsiderada e até desincentivada pelas implicações que
pode ter mas o facto é que se descobriu, em 2010, que a população europeia
possui, pelo menos, 4% de ADN de Neandertal e os asiáticos possuem, pelo menos,
6% de ADN do homem de Denisova. Então neste momento, segundo esta teoria
(corroborada por factos), podemos afirmar que não somos (europeus) puros
sapiens mas uma mistura — neste caso de Sapiens com Neandertal — que deu origem
a uma nova espécie. O mesmo se aplica aos asiáticos que serão uma mistura de
homo Denisova como Homo Erectus e Homo Sapiens. Os sapiens puros, segundo esta
teoria, seriam os africanos. Perante estas descobertas e conclusões percebe-se o
problema que representa…
Teoria da substituição (replacement theory)
A teoria da substituição afirma que não houve qualquer
contacto sexual entre as várias espécies e era a teoria politicamente correcta em
que ninguém queria tocar. Com as descobertas de 2010 esta teoria ficou abalada.
De qualquer forma esta teoria apresenta duas possibilidades:
- Com a chegada do Sapiens ao médio oriente, derrotam os Neandertais pela inteligência e astúcia, comendo consecutivamente ano após ano mais e melhor levando a estes últimos a desaparecer com o tempo.
- Uma guerra genocida entre espécies. Sabemos que a nossa espécie não é nada tolerante com a diferença e que é preciso aprendermos a conviver com a diferença. Pois naqueles tempos é bem provável que a intolerância com a diferença fosse ainda maior e está fácil de imaginar o que aconteceu.
O mais certo é que tenha acontecido um pouco de todas estas
teorias. É verdade que há uma prova de miscigenação mas os pequenos valores indicam
que não foi algo que aconteceu frequentemente. Outra conclusão evidente é que
nós extinguimos todas as outras espécies o que não prediz nada de muito bom
sobre a nossa espécie.
Surpreendidos? O melhor ainda está para vir.
Surpreendidos? O melhor ainda está para vir.